TECNOLOGIA 5G EM ÁFRICA – APOSTA NO FUTURO
Promissora e polémica, a tecnologia 5G* anuncia-se capaz de revolucionar o mundo. Transformando as comunicações, irá afectar a indústria, a saúde, a educação e todos os aspectos da vida humana que implicam intervenção tecnológica. Evolução natural das redes móveis que nas últimas décadas têm vindo a modificar a forma como comunicamos, a rede 5G oferece uma velocidade de tráfego de dados até agora nunca experimentada, mesmo através de redes por cabo, garantindo uma maior conexão, mais segura e uniforme para todos os utilizadores. Associando-se à Internet das Coisas, que estenderá a sua ligação a objectos, máquinas e dispositivos, abrirá um imenso leque de possibilidades noutras esferas da vivência humana, anunciando uma série de novas experiências.
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Segundo os seus promotores, com as redes 5G as cidades e as habitações atingirão um novo patamar de “inteligência artificial”, os veículos “aprenderão” a conduzir sozinhos tornando o trânsito mais seguro, a medicina e a educação à distância derrubarão fronteiras, a indústria e a agricultura terão aperfeiçoados os seus processos produtivos, tornando-se mais rentáveis e menos poluentes. E países como os Estados Unidos, a Coreia do Sul ou a China testam já estas potencialidades.
No final da primeira década do século XX, a NASA e a plataforma Intelligence Machine-to-Machine (M2Mi) Corp aliaram-se numa parceria destinada a desenvolver a tecnologia 5G. Rapidamente, outras entidades e empresas, sobretudo de telecomunicações, juntaram-se a esta missão, transformando-a numa causa global que será acompanhada pela NGMN Alliance (Next Generation Mobile Networks Alliance), uma associação internacional de telecomunicações móveis composta por operadoras, fornecedores, fabricantes e institutos de pesquisa, que estipula as regras e exigências a que todo o programa terá de se sujeitar.
Para alcançar a velocidade prometida são utilizadas ondas de rádio de alta frequência, além das frequências de banda média e baixa já usadas nas redes de telemóvel actuais. E é precisamente a utilização destas ondas de rádio de alta frequência, emitidas a partir de novas antenas que terão de se multiplicar para assegurar a transmissão das ondas, mais lentas que as já existentes, que tem levantado dúvidas e criado contestatários à existência das redes 5G. Porém, a própria Organização Mundial de Saúde insistiu, no início de 2020, que nas últimas décadas nenhum estudo científico demonstrou uma relação causal que pudesse levantar preocupações sobre os efeitos deste tipo de radiações sobre a saúde.
Vantagens…
À medida que mais empresas de telecomunicações anunciam o seu empenho no desenvolvimento da nova tecnologia, aumenta a lista de países que se mostram receptivos à sua adopção. E multiplicam-se os estudos que antecipam o seu impacto económico, como o da consultora IHS Markit, que revela um aumento de produção, vendas e empregos em todos os sectores relacionados com a cadeia de valor das redes 5G até 2035, estimando em 13,1 triliões USD as vendas relacionadas com o 5G (apesar da redução na trajetória de crescimento de longo prazo da produção económica global causada pela pandemia), em 22,8 milhões os novos empregos criados e em 10,8% o aumento do PIB global, para os 265 biliões USD anuais durante os próximos 15 anos.
A rede 5G oferece uma velocidade de tráfego de dados até agora nunca experimentada, mesmo através de redes por cabo, garantindo uma maior conexão, mais segura e uniforme para todos os utilizadores.
De acordo com esse estudo, o sector produtivo é dos que mais beneficiará com as melhorias esperadas na conectividade e digitalização, podendo responder mais rapidamente aos obstáculos e rentabilizando recursos. Na agricultura estima-se que a produtividade cresça 25%, com um aumento de 15% no rendimento das colheitas e uma redução até 30% dos insumos e 20% dos custos. Aliada à Internet das Coisas, a recolha de dados em tempo real proporcionada pela 5G ajuda a gerir a água disponível, a optimizar processos agrícolas, a organizar culturas, fertilização e colheitas, a vigiar o gado, permitindo ainda optimizar as redes de abastecimento e reduzir o desperdício, garantindo maior segurança e rentabilidade enquanto se protege o ambiente.
Já na manufactura, as vantagens poderão traduzir-se num aumento de 20% a 30% da produtividade geral, com 50% de melhoria na eficiência da montagem, 20% do aumento da vida útil dos activos e 90% da detecção de defeitos.
Os serviços públicos, as redes de abastecimento de energia e água e infra-estruturas críticas, também beneficiarão destas novas soluções inteligentes.
… e obstáculosAbraçar a tecnologia 5G pode parecer algo ambicioso num continente onde o acesso à Internet é ainda deficiente devido a factores como a instabilidade da rede eléctrica, a reduzida cobertura de fibra óptica, o uso de equipamento obsoleto ou o custo dos dados, que afasta grande parte da população do seu consumo – ainda em Dezembro de 2020 os líderes africanos dos 30 países reunidos na Smart Africa Alliance comprometeram-se a reduzir, em 50%, o custo da Internet nos seus países, de forma a incentivar o avanço do continente através da transformação digital.
Por outro lado, a necessidade de criação de legislação adequada à tecnologia 5G pelos governos africanos e os custos da construção de infra-estruturas e instalação da rede de antenas difusoras são entraves à sua implementação em África.
Actualmente, o Lesotho e a África do Sul são os únicos países africanos onde a 5G se encontra disponível comercialmente e, mesmo assim, em termos e zonas limitados. A GSMA, outra organização do sector que representa os interesses das operadoras de redes móveis de todo o mundo, refere que apenas sete países africanos utilizarão o 5G até 2025. Sabe-se que a Nigéria, o Quénia, o Gabão e o Uganda estão a realizar ensaios e, em 2020, a Autoridade Europeia Supervisora do Sistema Global de Navegação por Satélite divulgava, sem referir nomes, que existiam 24 operadoras em 18 países africanos que estavam a avaliar e a testar esta tecnologia e que oito dessas operadoras estavam a implantar 5G em redes pré-comerciais ou comerciais.
De acordo com o estudo “The Mobile Economy Africa”, da GSMA, mais de 50% da cobertura da rede em África é actualmente servida por tecnologia 3G ou inferior, e o continente teria muito a ganhar com esta evolução.
De acordo com o estudo “The Mobile Economy Africa”, da GSMA, mais de 50% da cobertura da rede em África é actualmente servida por tecnologia 3G ou inferior, e o continente teria muito a ganhar com esta evolução. E embora alguns especialistas sugiram que se invista na rede 5G “saltando” a etapa da fibra óptica e dos custos a ela associados, a verdade é que, para já, a 5G apresenta-se muito dispendiosa e muitos defendem que será preferível esperar até que esteja plenamente desenvolvida e o custo de equipamentos e dispositivos baixe nos países que estão à frente nesta corrida.
CAIXA
NO MUNDO (Em Janeiro de 2021)
- 413 operadoras em 131 países ou territórios investem em redes 5G
- 61 países ou territórios em todo o mundo têm redes 5G comerciais
- 144 redes 5G comerciais operam em todo o mundo
Fonte: Relatório GSA (The Global mobile Suppliers Association)
* G = GPRS, sigla para General Packet Radio Service (Serviço Geral de Pacotes por Rádio)
Edição 84 SET/OUT| Download.
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