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Texto: Hermenegildo Langa

Foto: Ivan Papucides

Edição 84 SET/OUT| Download.

Transformação Digital assente nas pessoas e processos

 

“O digital na banca tradicional contribuiu para a modernização das operações e a reformulação do modelo de negócio, a um ritmo menos acelerado do que as fintechs” – Bruno Dias

Falando sobre “Transformação Digital: Digitalização, Inclusão Financeira, Formalização da Economia”, especialistas defenderam, na 4.ª edição das Conferência Índico, a necessidade de se criar uma regulamentação que permita a criação de infra-estruturas de telecomunicações e internet por forma a promover o aumento dos serviços digitais sem descurar no apostar na sua segurança e literacia com vista a evitar fraudes.

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Na ocasião, o Consulting Partner da EY Moçambique, Bruno Dias, assinalou na sua  apresentação que o digital está a mudar o mundo, significando o início de uma nova era no sector financeiro. Por isso, “a evolução do digital tem transformado a forma como vivemos, consumimos, trabalhamos e comunicamos ao longo das últimas décadas”.

Para Bruno Dias, a adopção do digital nos serviços financeiros revolucionou a forma como a população gere e toma decisões ao seu ritmo e com total autonomia.

Prosseguindo, Dias alertou, no entanto, que a adopção do digital nos serviços financeiros trouxe também um conjunto de novos desafios que deverão ser considerados, entre eles, “a segurança de informação (fraudes financeiras), literacia digital e financeira, havendo a necessidade de criação de programas de sensibilização e capacitação bem como regulação desses serviços”.

“O princípio da transformação digital é nas pessoas e nos processos, visto que estes são os pilares fundamentais para todo o processo em volta” – Carlos Jorge Araújo

Alinhando na mesma ideia, o Director comercial da Bravantic Moçambique, Carlos Jorge Araújo, uma empresa de prestação de serviços tecnológicos, começou por afirmar que a Transformação Digital é impactante em todos os sectores da sociedade, desde a economia até a vida quotidiana dos cidadãos.

“Em primeiro lugar, temos que pensar nas pessoas e, depois, nos processos, pois temos que os transformar em formato digital”, defendeu Araújo, salientando que em Moçambique a Transformação Digital assume ainda mais importância, pois representa uma oportunidade única para impulsionar o crescimento e o desenvolvimento do país.

A este respeito, a especialista em Recursos Humanos na PRI Mozambique Jéssica Morgado também enfatizou que não se pode ir à Transformação Digital sem as pessoas. “A Transformação Digital não começou agora, estamos a viver a transformação digital e vai continuar, mas é importante que estejamos sempre a procurar melhorar para acompanhar esta mudança”, destacou, explicando que existe ainda muito trabalho a ser feito para que esta Transformação Digital seja efectiva.

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Por sua vez, o Director comercial da BCX Mozambique, Luís Enoque, insistiu na necessidade da Transformação Digital não ser limitado apenas para as cidades, pois, “é preciso olhar também para as comunidades que vivem nas zonas rurais, visto que é lá onde reside a maior parte da população moçambicana”.

“É preciso apostar na capacitação por forma a que as tecnologias tragam benefícios para sociedade” –   Luís Enoque

Entretanto, numa abordagem sobre o processo de Transformação Digital em Angola, o Executive Board Advisor da EMIS – Empresa Interbancária de Serviços de Angola, Eduardo Bettencourt, falou da necessidade de se pensar numa transformação inclusiva, pois, apesar de assumir que o foco desta transformação são as pessoas, na prática, o que acontece é que estamos a excluí-las. “Temos que olhar para elas do ponto de vista inclusivo”, insistiu o representante angolano, para depois acrescentar que a EMIS criou, em Angola, um programa designado “Cidadão digital”, que tem o objectivo de adoptar digitalmente as pessoas.

“Temos que olhar para transformação digital do ponto de vista inclusivo, pois foco desta transformação são as pessoas” – Eduardo Bettencourt

“À semelhança do que acontece em Moçambique, Angola possui uma população maioritariamente jovem, mas isso não quer dizer que o facto de terem nascido numa era digital já estão dotados da digitalização, muito pelo contrário. Portanto, este programa tenta criar uma literacia digital e financeira nos jovens, por forma a saberem estar no mundo digital. E seria interessante se Moçambique apostasse também nesse aspecto”, anotou Bettencourt.

Mas será que o regulador moçambicano está preparado para acompanhar esta evolução tecnológica? A resposta é “sim”, quem assim defende é o Presidente do Conselho de Administração do Instituto Nacional de Tecnologias de Informação e Comunicação – INTIC, Lourino Chemane, entidade reguladora no país, estabelecida há três anos.

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“Há necessidade de acelerarmos, como país, o regulamento da construção de centro de dados. Ainda assim, há um trabalho que está a ser feito em parceria com o sector privado. Um exemplo claro do que está a ser feito é que o Governo aprovou, em 2021, a estratégia nacional de segurança cibernética que visa garantir um ciberespaço seguro e resiliente, utilizado de forma segura pelo Executivo, sector privado, sociedade civil e outras instituições”, realçou o PCA do INTIC.

Mais adiante, os especialistas presentes na 4.ª edição das Conferências Índico apontaram os caminhos que Moçambique deve seguir para que a Transformação Digital ajude na formalização da economia moçambicana. Nesta temática, o CEO da Intellica, Noral Nhantumbo, um dos principais provedores de tecnologia de informação e comunicação em Moçambique, explicou que na perspectiva da sua empresa, a Transformação Digital requer atenção em quatro grandes pontos: melhorar o relacionamento com o cliente, empoderar funcionários, optimizar operações e transformar produtos e serviços.

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Enquanto isso, o CEO da Check-In 360, Mário Rafael, uma empresa angolana que actua na área tecnológica, falou da experiência daquele país nesta temática, destacando a criação de um sistema designado “Factura Fácil”, concebido para ajudar os comerciantes que ainda estão na informalidade para o pagamento de impostos, realçando que “Angola sofre dos mesmos problemas que Moçambique sofre, mas para se ultrapassar esses obstáculos têm que se começar de algum lado, por isso, temos que ajudar a acelerar o processo”.

Entretanto, este processo tem de ser urgente para que Moçambique não se transforme numa ilha. Foi neste contexto que o representante do Banco Comercial e de Investimentos (BCI), José Garrido, revelou no evento que a banca tem em vista a abertura de balcões digitais por forma a facilitar os seus serviços através da digitalização. “A título de exemplo, já é possível, no BCI, abrir uma conta bancária sem ter que dirigir a um balcão”, adiantou.

Na mesma senda, o CEO da Ignite, Raimundo Zandamela, considerou ser importante não deixar de lado nenhum actor neste processo de Transformação Digital, sobretudo quando se trata da inclusão financeira. “Não temos como desenvolver uma economia enquanto não dispormos de propriedade intelectual’’, explicou.
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Contudo, o director de Tecnologias de Informação e Comunicação da Bolsa de Valores de Moçambique – BVM, William Loforte, apontou que a formalização da economia não deve envolver apenas a integração das actividades económicas, mas também do cidadão comum no sistema financeiro.

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