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Texto: Nuno André

Foto: IStockphoto e D.R.

Edição 84 SET/OUT| Download.

Pan African Heritage World Museum – Preservar a herança cultural africana

 

O espaço museológico, num edifício de quatro andares, reunirá uma exposição que relata a história de África, visitando civilizações milenares de Yorubas e Egípcios, conduzindo-nos por reinos e impérios pré-coloniais…

A ideia de construir um museu “dedicado a compartilhar a verdadeira história da África e do seu povo, desde a criação humana até aos nossos dias, sob o olhar atento dos estudiosos mais famosos do mundo” partiu de um convicto pan-africanista ganês, Kojo Yankah, jornalista, escritor, professor universitário, ex-deputado e ex-ministro do Gana. Amadureceu esta ideia desde a década de 1960, para a apresentar aos seus pares já no século XXI. A proposta foi prontamente abraçada por muitos dos seus amigos, eruditos apaixonados pela história do continente e defensores da solidariedade africana, para quem participar na iniciativa representa um motivo de orgulho.
A partir da ideia original, chegaram ao projecto de um espaço museológico que reunirá, num edifício de quatro andares, uma exposição que relata a história de África, visitando civilizações milenares de Yorubas e Egípcios, conduzindo-nos por reinos e impérios pré-coloniais, apresentando o pensamento dos primeiros pan-africanistas, como Wilmot Blyden, James Johnson ou W. E. B. Du Bois, recordando a obra dos que, como Kwame Nkrumah ou Julius Nyerere, entre tantos outros, lideraram os seus países após a Independência, ou os apelos à paz de Nelson Mandela.

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O edifício onde o museu irá funcionar, desenhado pelo arquitecto ganês George Wireko Brobby, tem a forma de um chifre de animal, símbolo de força e humildade, que na antiguidade antecedeu o trompete como instrumento de comunicação entre vivos e com os já desaparecidos, em cerimónias especiais. Repleto de símbolos e elementos africanos, a obra é descrita como “um farol para a Família Pan-africana em todo o mundo, representando o proverbial apelo urgente para nos reunirmos na unidade para a verdadeira reconciliação e libertação”.

Além do acervo já reunido, Kojo Yankah referiu, em entrevista de Dezembro passado à publicação virtual Southworld, a intenção desolicitar a devolução de obras de arte retiradas de África e que hoje se encontram em museus espalhados pelo mundo”. “Temos uma história rica desde que a humanidade nasceu em África e a civilização despertou neste continente. Esta é nossa herança. É importante resgatar nossa história, o nosso património e a nossa herança”, afirmou.

Para a sua concretização o empreendimento conta com o apoio de duas organizações especialmente orientadas para questões africanas, a Pan-African Heritage World, organização que visa preservar e comunicar a história, os ideais, a filosofia e a herança cultural dos afrodescendentes, e a Face2Face Africa, uma empresa de comunicação sediada em Nova Iorque que cobre tópicos informativos, da política ao entretenimento, relacionados com o continente africano. Juntos lançaram mãos ao trabalho e desenvolveram o projecto que foi conquistando mais aliados por todo o mundo. Ao governo do Gana, país onde o Museu está a ser construído, seguiram-se instituições como a Comissão da União Africana, a Associação das Universidades Africanas ou a UNESCO, entre outras.
Apresentado como uma ONG internacional não política e sem fins lucrativos, o museu apoia-se num modelo de governança supervisionado por um conselho de directores composto por um vasto grupo de académicos que lhe garantem credibilidade.

Regresso às origens

No dia 21 de Setembro de 2020, e devido às imposições provocadas pela pandemia da Covid 19, o lançamento mundial do novo museu decorreu numa cerimónia virtual em que participaram algumas das personalidades ligadas ao projecto, a começar pelo Presidente da República do Gana, Nana Akufo-Addo, que justificou o apoio do seu Executivo com o facto de esta ser “uma iniciativa pan-africana inovadora”, defendendo que “chegou a hora de todos levarmos a nossa herança a sério. Ninguém precisa de nos dizer que temos uma história rica, feita de realizações notáveis​​ nas artes, nas ciências e na tecnologia”.

Já o mentor da iniciativa, Kojo Yankah, visivelmente emocionado com a realização dos seus planos, referiu: “Após séculos de separação, os afrodescendentes têm a obrigação de compartilhar um espaço comum, que os ajude a preencher a lacuna que existe entre si como resultado de uma deliberada deseducação e opressão histórica. O Pan African Heritage World Museum cumpre essa obrigação”.
Clarificando a referência à separação, Sandra Appiah, CEO da Face2face Africa, especificou que “há vários séculos, quando africanos escravizados atravessaram a ‘Porta Sem Retorno’, em Cape Coast, rumo a um mundo desconhecido, não ocorreu simplesmente um rapto de recursos humanos. Foi um momento simbólico que rompeu os laços entre quem está em casa e quem está fora. A Face2face Africa tem tentado reatar esses laços e ser uma voz que conta a história de africanos separados à força ou por escolha. E é por isso que temos orgulho em participar na construção do histórico Pan African Heritage World Museum, em Winneba, não muito longe do Castelo de Elmina”.

“Temos uma história rica desde que a humanidade nasceu em África e a civilização despertou neste continente. Esta é nossa herança. É importante resgatar nossa história, o nosso património e a nossa herança”, Kojo Yankah.

Preservar a herança africana
Em fase de construção, o complexo museológico ficará localizado na região de Pomadze Hills, a cerca de 45 kms de Acra, a capital do país que é um dos mais procurados destinos turísticos da África Ocidental e cujas autoridades procuram incentivar os africanos da diáspora a visitar, destacando locais históricos, como o Castelo da Costa do Cabo (visitado por Michelle e Barack Obama em 2009), de onde partiram gerações de africanos escravizados rumo aos territórios americanos. Em 2019, o país criou o programa “O Ano do Retorno”, convidando os seus descendentes a regressarem ao continente.
Numa área de 300.000 kms2 nascerá aquele que é definido como “o primeiro museu vivo do seu género em África”, um complexo que inclui o Parque Pan-Africano dos Heróis, um jardim com esculturas de figuras maiores da História, Arte, Ciências, Desporto e Entretenimento de África; o Palácio dos Reinos Africanos, exposição museológica que relata a história do continente e dos seus povos através de réplicas dos seus reinos; a Aldeia Africana das Plantas, que reúne exemplares da flora africana; hotéis e centros de conferências e espaços de entretenimento.

Na já citada entrevista à Southworld, Kojo Yankah revelou que o custo de construção está orçado em cerca de trinta milhões de dólares, financiados por “subsídios, doações e outras actividades de arrecadação de fundos. É preciso dizer que a arrecadação de fundos já começou em vários lugares, tanto no continente como na diáspora”.

Dirigido por uma estrutura que inclui um Conselho Honorário de Patronos (reis africanos, presidentes e personalidades eminentes), um Conselho Consultivo, um Conselho de Curadores, um Conselho Académico Internacional e o Comité Executivo de Gestão do Museu, o projecto deverá ter as suas instalações físicas construídas no final de 2022, cabendo ao Conselho de Curadores, deliberar sobre as colecções do museu, a preservação, arquivo e conservação do acervo, e o recrutamento, formação e capacitação do pessoal do museu.

Enquanto se aguarda pela inauguração, está anunciada para Agosto de 2021 a primeira conferência anual do Museu, a realizar em Accra, Gana, sob o tema “Colmatar o fosso entre os africanos através de bolsas de estudo, cultura, empreendedorismo e tecnologia”, e durante a qual será lançada a versão on-line do espaço museológico, que antecipa a visita real.

Até lá, recordemos as palavras de Kojo Yankah que, apoiado “nos ombros dos nossos antepassados” dedicou o novo museu “à juventude do mundo”: “A nossa própria história deve ser contada com curadoria, preservada e usada como material de ensino para levantar o espírito; para aumentar a autoconfiança; para inspirar a procurar a igualdade e a justiça sociais e tornarmo-nos naquilo que desejamos para toda a humanidade, como cidadãos iguais do Mundo, vivendo em paz ”.

 

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Site: https:// www.pahw.org

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