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Texto: Elton Pila

Fotos:Cedidas pela
marca

Edição 84 SET/OUT| Download.

Walissima, um must

Teta Lando, o angolano da música manifesto, cantou «carapinha dura», uma ode ao cabelo africano. Penso nos versos na voz apelativa de Lando – ‘‘Negra de carapinha dura/ não estragues o teu cabelo, me jura’’ – em conversa com Micaela D’avó, a fashion hair e estilista com a mão pesada do registo de identidade. Mas, antes dos outros, ela mesma. ‘‘Estava numa fase de autodescoberta. Comecei a apaixonar-me pelo cabelo crespo’’, conta. E criou um estilo que gerou uma identidade: cabelo crespo e roupas oversize, com tecidos sempre rústicos. E enquanto criava o caminho em nome próprio, chegavam sempre perguntas – ‘‘Onde compraste isto?… Onde fizeste este penteado? – e foram tantas perguntas que fizeram nascer a Walissima, a marca nesta belíssima palavra em xichangana. As línguas como as culturas não se traduzem, existem nas fronteiras que se erguem, mas em português «walissima» pode ser algo perto de ‘‘com prestigio’’ ou ‘‘com valores’’, quase sempre associado ao recato. Mas esta Walissima – a da Micaela – é mais do que as roupas a riscar o chão, é o reconhecimento e valorização da terra que engoliu o nosso cordão umbilical. E foi isso que se viu, ano passado, no chão do Fancy Africa com ‘‘Ressignificar’’, uma colecção para rebentar as grilhetas. ‘‘A ideia da colecção era mesmo de superar os padrões que foram impostos durante o tempo da escravatura e colonialismo e levar ao palco moçambicano um novo conceito de moda que valoriza a beleza da cultura negra’’, conta. E foi também o que se viu este ano – com um passo a frente, mas sempre no mesmo trilho – na colecção ‘‘Mukumi ni Wemba’’: homens e mulheres em celebração aos dias dos reinos, sem os tons pálidos a destoarem a paisagem, quando vestíamos e falávamos em voz própria. E isto representado também no trabalho com tecidos em algodão, linho e sisal. Micaela pensa na sustentabilidade, no conforto e na duração. Mas também na história cultural emanada por estes tecidos. ‘‘Vestir as roupas da Walissima, assim como os penteados e cabelos que fazemos, é uma valorização e exaltação da cultura dos povos africanos’’. E esta valorização e exaltação são um must.

Walissima é mais do que as roupas a riscar o chão, é o reconhecimento e valorização da terra que engoliu o nosso cordão umbilical.

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