De Xinguti. com amor
Chegámos à principal entrada do Parque Nacional de Maputo numa segunda-feira ao fim da tarde. Esperam-nos, a mim e ao fotógrafo, dois guias de uma empresa de turismo que organiza a nossa visita ao Parque. Cumprimentam-nos, arrumamos as nossas mochilas no 4X4 (recomendadas para tráfego no Parque) verde oliva. Os acessos ao parque já estão assegurados, e, feitas as primeiras explicações, partimos já o sol começa a enfraquecer.
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Àquela hora, deduzi quando fazíamos a estrada para o Parque, não estaria muita gente, sobretudo numa segunda-feira. Os procedimentos a cumprir para a entrada, como vim a saber no dia seguinte quando saímos, eram: contactar uma agência de turismo como aquela que nos conduziu ou contactar directamente o Parque. Para qualquer dos casos, as entradas no Parque não são permitidas depois das 16.00h, excepto com pré-arranjos, como informa um folheto que recebemos. Outra informação no folheto: rede de telefonia limitada dentro da reserva.
France Give, guia da Mussiro Tours, uma empresa que opera no Parque, disse-nos que a viagem até ao local do nosso acampamento duraria uma hora. Estaremos nas margens da Lagoa Xinguti, uma das áreas do Parque adaptadas para acomodação (acampamento, o nosso caso). Seguimos pela estrada estreita, a velocidade lenta para cumprir os regulamentos de trânsito no Parque, mas também para ir observando animais e árvores, estas por vezes tão adjacentes à estrada que teremos de afastar os ramos para o lado. Outras vezes vejo o cerrado que se estende em pântanos que vão longe. Não tínhamos feito 500 metros quando avistamos impalas. Providencial, o guia: “são impalas!”, alerta-nos no banco de trás. E será assim até ao acampamento. Mais impalas, nialas, gazelas-pintadas e outros antílopes.
Recebem-nos na área para acampar dois guardas a trabalhar no Parque há décadas.
O Parque Nacional de Maputo resulta da junção, em 2019, de duas áreas de conservação, a Reserva Especial de Maputo e a Reserva Marinha Parcial da Ponta de Ouro. Com esta nova configuração na gestão, novas zonas de exploração turística, como o acampamento em Xinguti, foram criadas.
Instalamo-nos a passos da lagoa. Bastante familiarizado com as tendas, começo a montá-las sem muito examinar as redondezas. O acampamento: um compartimento erguido com a casa de banho e cozinha aberta, espaços (conto três) para provavelmente seis tendas, o lugar para a fogueira. Não tardamos a acendê-la, a lenha abunda entre as árvores ali perto. Quase para verificar a informação no folheto sobre as comunicações, ligo o telemóvel. Não é mesmo possível estabelecer qualquer tipo de comunicação. Amanhã, promete o guia, podemos ir a uma zona em que é possível ter alguma rede. Para o jantar levamos tudo da cidade de Maputo, a água, a comida, o fogão. Temos peixe, frango e saladas de beterraba.
Já quase estou afeito àquele lugar e sentamo-nos na fogueira para planear o que faremos amanhã. Penso também no entusiasmo que é estar ali naquele momento e o que a vida animal e vegetal que nos rodeia proporcionam, o que é contrabalançado pela noção simples que me ocorre nestas situações: sei pouco do que me circunda.
Veremos crocodilos amanhã, não muito longe daqui, afirma um dos guias. Dos hipopótamos ouviremos os roncos e grunhidos esta noite, continua. Não sei se tal informação pretende tranquilizar-nos ou provocar terror. Pastam à noite, os hipopótamos. E lembro-me de ter lido que o seu tamanho e a imagem popular fazem com que se circule sobre esses animais a reputação de agressivos, o que provavelmente não corresponde à realidade. E jantámos à volta da fogueira. E falámos dos jogos do CAN na Costa do Marfim. E ouvimos os hipopótamos nessa noite. Um a um, recolhemos às nossas tendas.
Na noite anterior, concordamos iniciar a nossa expedição em torno da Lagoa Xinguti às 06h00 da manhã. Os dois guias levantaram-se mais cedo e puseram-se a arrumar todo o material que tinham levado de Maputo num compartimento no carro. Depois do café, partimos sem demora – passaremos as próximas seis horas a visitar diferentes zonas do Parque.
Primeiro as margens do Xinguti na área com os assentos para piqueniques e dos poucos locais com cobertura de rede para telemóveis. Depois a lenta viagem para os lados das dunas. Pelo caminho javalis, macacos, porcos-do-mato, uma piscina para elefantes.
Quando por fim chegamos às dunas, vemos ao longe pastos verdes com dezenas de animais, incluindo elefantes e bois-cavalo. A paisagem é lindíssima!
Um dos guias propõe que por ali fiquemos mais algum tempo. O fotógrafo deve ter feito neste lugar mais fotografias do em qualquer outro em que estivemos antes.
Ao meio-dia partimos de regresso à entrada do Parque, onde nos espera um carro que nos levará de regresso a Maputo.
Enquanto fazemos esse percurso, penso profundamente, sem procurar respostas, na combinação que permite a coexistência destes animais e destas plantas e da nossa espécie. Há conflitos, é certo, mas aqui, como em outros lugares, podemos coexistir.
Edição 82 JAN/FEV| Download.
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