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Texto: Hermenegildo Langa

Foto: Júlio Marcos

Edição 83 MAR/AGO| Download.

CONFERÊNCIAS ÍNDICO – Governo destaca potencialidades do turismo para protecção do meio ambiente

O Governo Moçambicano considera haver necessidade de aproveitar as potencialidades turísticas – aliadas ao mar – de que o País dispõe para estimular a economia nacional, mas também preservando o meio ambiente.

Fazendo a abertura da 3.ª edição das Conferências Índico, um evento que decorreu sob o tema “Turismo e Economia azul: um oceano de oportunidades”, o Director Nacional de Turismo, Cândido Langa, em representação do Ministério da Cultura e Turismo, afirmou que Moçambique possui uma vasta potencialidade marinha ao longo da sua costa, e o turismo é uma das actividades com maior capacidade de protecção do meio ambiente, visto que a conservação da natureza tem enorme potencial para o desenvolvimento sócio-económico.

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Para Cândido Langa, “a economia azul é uma abordagem inovadora que reconhece o potencial dos nossos oceanos, mar e lagos como fontes de riqueza e de desenvolvimento, abrangendo sectores como pesca, agricultura, transporte marítimo, energia renovável e, claro, turismo”.

Adicionalmente, o turismo, segundo o governante, desempenha um papel fundamental na promoção da economia azul, “pois está intrinsecamente interligado à nossa costa e aos recursos naturais”. “O turismo azul não é apenas uma actividade recreativa, é uma oportunidade para explorar e preservar os tesouros do oceano profundo e das águas costeiras, visto que busca o equilíbrio entre o desenvolvimento económico, a conservação dos ecossistemas marinhos e o bem-estar das comunidades”, frisou Langa.

Especialistas defendem mais investimentos para o desenvolvimento da economia azul

Moçambique continua a ser um país relevante no debate sobre a acção do oceano, tendo em conta a extensa costa marítima que possui, de aproximadamente 2800 km. Actualmente, vários debates sugerem esta aposta (na economia azul) por forma a aproveitar o potencial que tem, mas também por ser crucial aliar o seu desenvolvimento a uma economia sustentável, sobretudo num momento em que os desastres naturais vão-se tornando numa realidade.

“Moçambique tem uma costa enorme e rica, não só de seres vivos, mas também de oportunidades” – Jéssica Morgado

“Moçambique tem feito muito tentando alinhar o seu desenvolvimento com a agenda global de biodiversidade” – Denise Nicolau

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Na verdade, se há actividade tão antiga como o Homem, essa é a pesca (e a caça, claro). E esta pode ter sido também a primeira actividade de economia azul da História. Mas a partir daí, outras foram surgindo, como são os casos, dentre várias, do transporte marítimo, turismo de lazer e da indústria energética.

Entretanto, na 3.ª edição das Conferências Índico, cujo tema foi “Turismo e Economia azul: um oceano de oportunidades”, especialistas defenderam, durante o debate, que a conservação ambiental, indústria pesqueira, transporte marítimo, logística e a integração da indústria de petróleo e gás, devem seguir estratégias inovadoras na forma como são vistos para os meios de vida, mas também na forma como são adaptados aos eventos climáticos extremos.

Denise Nicolau, representante da União Internacional de Preservação da Natureza (IUCN) em Moçambique, discursando no evento, começou por afirmar que a economia azul deveria estar baseada em meios regenerativos e não extractivos. Para a gestora, o turismo é, de facto, um pilar da economia azul e do desenvolvimento, ou seja, Moçambique tem feito muito tentando alinhar o seu desenvolvimento com a agenda global de biodiversidade, no entanto, “ainda enfrenta vários desafios, pois a maior parte das comunidades vivendo nas zonas costeiras depende directamente dos recursos naturais para a sua sobrevivência”.

“O potencial da natureza como vector do desenvolvimento é muito grande. No entanto, não basta só alinhar leis e políticas, temos de alinhar acções e criar mecanismos para que o sector privado opere, de facto, num ambiente favorável para o investimento no sector da natureza, pois o seu valor é inestimável”, destacou, acrescentando que temos de começar a valorizar o nosso capital natural, mas para que isso aconteça há necessidade de haver mecanismos de financiamentos inovadores no que concerne aos investimentos no capital natural, aliando estes também à educação ambiental.

Partilhando a mesma ideia, o docente e especialista em Biologia de Conservação, Almeida Guissamulo, considera haver necessidade de seguir as boas práticas internacionais para que haja desenvolvimento da economia azul em Moçambique. “Mas temos que definir em termos de conservação o que é importante para nós. Tudo passa por haver uma regulação adequada para garantir a conservação da biodiversidade e os investimentos privados”, frisou.

Entretanto, a mesma posição é também partilhada pelo assessor do ProAzul, uma instituição criada pelo Governo para o desenvolvimento da economia azul. Para Caldas Xavier, a economia azul vai muito além da actividade pesqueira e portuária, “ela é muito mais e não está a ser contabilizada como tal”.

“Como impulsionadores da economia azul, percebemos que há um baixo conhecimento em relação ao tema, tanto mais que o financiamento disponível para esta área é muito reduzido”, acrescentou.

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A nível central, o Director Nacional de Turismo, Cândido Langa, afirmou haver um trabalho que está a ser feito, sobretudo de auscultação, com vista a colher mais subsídios nos planos de desenvolvimento do turismo sustentável incorporado na economia do mar. Para o efeito, “estamos a desenhar um plano que visa divulgar as nossas potencialidades”.

Na mesma ocasião, debruçando-se também sobre o desenvolvimento do cluster marítimo: indústria pesqueira, transporte e logística e oil&gas, Jéssica Morgado, especialista em Recursos Humanos na PRI, uma empresa de recrutamento, destacou que Moçambique tem uma costa enorme e rica, não só de seres vivos, mas também de oportunidades, mas para o seu desenvolvimento é fundamental o capital humano. Ainda assim, “continua a observar-se uma insuficiente inclusão do mar e da sua importância económica nos planos do Sistema Nacional de Educação”.

Paralelamente a isso, o Director da InSite, Vicente Bento, lembrou que “o futuro de Moçambique não está no mar, mas sim no desenvolvimento de actividades realizadas ou executadas em terra”. Neste sentido, “a Insite oferece um conjunto de serviços não só na área da tecnologia, mas também no controlo de qualidade que são também transversais à economia do mar”.

A este respeito, o Director de Operações da empresa Portos de Cabo Delgado (PCD), Abdul Ngoque, realçou o esforço do Governo em promover empresas nacionais que actuam na economia do mar. Contudo, “a capacidade técnica em algumas actividades da economia constitui ainda um grande desafio para os moçambicanos”.

Entretanto, a Coordenadora da elaboração da EDEA – Estratégia de Desenvolvimento da Economia Azul em Moçambique – no Ministério do Mar e Águas Interiores, Felismina Antia, fez lembrar aos participantes que, desde 2015, o Governo tem vindo a adoptar várias políticas que visam procurar como é que o mar é gerido, sobretudo os seus recursos. “Hoje temos títulos privativos no mar, como também temos em terra, no entanto, isso traz alguns desafios, sobretudo em relação aos anos em que o mar era utilizado de forma livre, mas também passa a ser uma nova fonte para poder galvanizar a nossa economia”, finalizou.

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