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Texto: Eduardo Quive
Foto: Yassmin Forte
Edição 83 MAR/AGO| Download.

“Madala Vaku Niassa: SÍMBOLO DE CONSERVAÇÃO E RECONCILIAÇÃO

Chama-se “Madala Va Ku Niassa”, o Velho de Niassa. Possui as dimensões de um verdadeiro elefante: cinco metros por sete metros. Os materiais que fazem a obra associam-na ao real, ou seja, os objectos usados para caçar os elefantes foram usados para construir um animal que carrega a estética e o discurso que provavelmente impactarão os corações dos humanos. Concretamente, “Madala” é feito de 684 armadilhas de aço, 356 armadilhas de corda, 133 panelas de garimpo, catanas, 209 picaretas e 120 cartuchos de munições, aos quais se junta um tecido de lã cosido pelas mãos de mulheres e homens de Manhure, uma região situada dentro da Reserva Especial do Niassa, que saberá, mais do que ninguém, a verdade das relações entre animais e pessoas.

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Entramos assim para a história da Bióloga Colombiana, Paula Ferro, que, tendo entrado na Reserva Especial do Niassa já lá vão cerca de 18 anos, se sente em casa. Ela que carrega uma vasta experiência no trabalho de conservação, turismo e desenvolvimento comunitário. Foi ela quem juntou cerca de 50 pessoas, na maioria mulheres, para aprenderem a manusear a agulha de croché, ligando infinitos laços, planos ou redondos, criando uma multiplicidade de padrões, jogando com o relevo e alternando cores. É pela sua iniciativa que se cria a YAO Crochet. Para o trabalho com o metal, juntou-se o escultor Francês Jules Pennel, que não sou talhou a obra com as próprias mãos, como formou os envolvidos. Todo este trabalho contou ainda com a contribuição de Derek Littleton, Director da Fundação Lugenda e da Concessão Luwire.

Na euforia da instalação do elefante de lã e de aço, que se encontra no jardim do Centro Cultural Franco-Moçambicano e aí se manterá por três meses, Paula Ferro celebrou o percurso feito desde 2023, desde que esta obra saiu de uma extremidade do país para outra.

“Esta pele simboliza simultaneamente a esperança e a resiliência das populações locais e a fragilidade da fauna e do ambiente. Os quadrados de cor em croché representam a complexidade e a diversidade da Reserva Especial do Niassa, um dos últimos bastiões da vida selvagem na África Austral”.

“É uma oportunidade para convencer as pessoas da importância da luta contra a caça furtiva e da protecção dos ecossistemas e dos grandes animais selvagens. É também uma oportunidade para mostrar o orgulho das comunidades e dos artistas que tornaram este projecto possível.”, diz-nos Paula Ferro, encarando “Madala” com olhos encantados. Afinal, a esperança é também que ele abra novas oportunidades para as comunidades, incluindo a melhoria das suas condições de vida.

“Depois desta exposição aqui em Maputo, não sabemos para onde irá o ‘Madala’. Certo é que ele será leiloado, poderá ser comprado por alguém ou uma entidade em qualquer parte do mundo. E o dinheiro será usado para a construção de uma escola de artes e ofícios no Niassa”, conta-nos. É que, acredita Paula, empoderar as mulheres e dar fontes seguras de rendimento aos homens, aumenta as chances de que eles tenham uma perspectiva de vida melhor, o que contribuirá para que valorizem todo o património natural, e que tudo façam para a sua conservação.

Edição 83 MAR/AGO| Download.

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