Menu & Search

Texto: Leonel Matusse Jr.

Foto: Júlio Marcos

Edição 83 MAR/AGO| Download.

Venâncio Calisto – A obsessão pelos mesmos grandes temas

O caminho de Venâncio Calisto é feito da obsessão pelos mesmos grandes temas. A exploração e expropriação do outro, o silenciamento e a marginalização da voz do outro, a solidão em meio à multidão, neste teatro de invisibilidade que faz do outro a carne putrefacta que fertiliza os solos por onde se erguem impérios. E fá-lo na mesma linha de um teatro de combate à indiferença, aos lugares-comuns e aos lugares-fechados. Nas adaptações e encenações de “O Mercador de Veneza” de William Shakespeare, e “A Mãe” de Bertolt Brecht, ou em textos escritos por mãos próprias como “Qual é a sentença: a mulher que matou a diferença”, “(Des)mascarados”, “A Crise”, “O alguidar que chora ou a história das pedras que falam” e “Dentro do estômago do mundo | Dentro do vazio, para ser mais exacto”, são apenas alguns exemplos desta obsessão.

Publicidade

Conheço-te primeiro pela poesia. Depois no teatro. São duas formas de expressão distintas pela sua natureza. E pergunto-me: como se navega entre ambas?

Para mim, a poesia e o teatro são águas do mesmo oceano. É verdade que a minha iniciação artística começa com a poesia, com a leitura de poemas, sobretudo. Sempre gostei de ler em voz alta.

E este foi o caminho que te levou ao teatro?

A dada altura, senti que era preciso transformar em corpo, imagem, movimento e som os mundos em que a poesia me transportava. Talvez por isso nunca defini uma fronteira entre estas duas disciplinas. Se de um lado a poesia serve-se da palavra escrita para expressar a nossa subjectividade, o nosso olhar mais profundo sobre as coisas, o teatro dedica-se à sua concretização cénica. O palco é uma espécie de folha em branco que devemos preencher com metáforas.

Estiveste nos últimos três anos a viver em Portugal, uma outra realidade, sobretudo na área das artes e cultura. Que olhar te parece que isto te agrega sobre a realidade que o país vive nesses campos?

A minha experiência como estudante e profissional de teatro em Portugal possibilitou-me entrar em contacto com diversas formas de fazer e pensar o teatro, obviamente muito diferentes das nossas, afinal é um outro contexto com outros desafios. No entanto, penso que há uma coisa que nos serve a todos, que é a formação de qualidade, seja dos profissionais da área, assim como do público. Por isso, acredito que esse deve ser o meu contributo. Espero poder fazer da minha experiência, enquanto criador e professor de teatro (lecciono a disciplina de Dramaturgia na Escola de Comunicação e Artes), uma ferramenta importante na materialização desses desafios, de modo a contribuir para a elevação da qualidade e valorização dos nossos productos artísticos.

Uma pergunta fácil é: tendo já publicado livros de poesia e teatro, o que podemos esperar de ti a seguir?

Pretendo continuar a escrever e a publicar mais livros. Neste momento, tenho um livro no prelo, é uma comédia em três actos, “Moz my love”, que inclusive já foi levado à cena pela companhia de teatro Kunhlanganyeta, tendo participado do Festival de Teatro de Inverno, no ano passado, e tido uma leitura encenada pelo Teatro da Rainha, em Portugal. A peça vai ser publicada ainda este ano. A outra novidade é a publicação da peça “Viagem Por Mim Terra”, criada no âmbito da minha participação na Odisseia Nacional levada a cabo pelo Teatro Nacional Dona Maria II.

Edição 83 MAR/AGO| Download.

 

0 Comments

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.