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Texto: Hélio Nguane

Foto: Trinta Zero Nov

Edição 82 JAN/FEV| Download.

Trinta Zero Nove – Um farol de acesso ao mundo

Uma editora independente investiu na tradução, desafiou o silêncio e deixou a sua voz ecoar no país e além-fronteiras, provando que é possível abrir novas páginas no tímido mercado editorial moçambicano.

Em menos de 10 anos de existência, a Trinta Zero Nove destaca-se na publicação de contos, romances, poemas e obras infanto-juvenis. Fundada em 2018, visionou horizontes nunca vislumbrados. Nas asas da inovação, o catálogo da editora se expande, tendo sido, entre outras coisas, a primeira editora dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) a vencer o Prémio Excelência da Feira do Livro de Londres. Além disso, a Trinta Zero Nove destacou-se entre as 100 melhores startups da África durante a 3ª edição do Pitch-a-thon do Access Bank. E mais, viu duas das suas obras na lista de cinco finalistas no Prémio Jabuti, o maior concurso literário do Brasil.

Todo esse êxito tem um nome por trás: Sandra Tamele. Formada em Arquitetura, diplomada em tradução e credenciada pelo Institute of Linguists Educational Trust do Reino Unido, Sandra Tamele deu vida à primeira editora independente dedicada a traduções no país. Trinta Zero Nove, nome inspirado no 30 de Setembro, Dia Internacional da Tradução, ergue-se como farol em meio a penumbra editorial moçambicana. “Ainda não temos um mercado editorial em Moçambique”, atira Sandra Tamele, deixando explícito que é possível plantar no concreto, apenas com trabalho, persistência e mais trabalho. Num país onde apenas 27 editoras teimam em contar histórias em livros para 31 milhões de almas, Tamele destaca-se. Desenha trilhas bilingues para o leitor moçambicano, construindo pontes entre línguas e culturas. “A editora busca publicar livros em edições bilingues, como Português-Macua, Português-Changana e Português-Sena, pois queremos atingir mais leitores em Moçambique”, afirma, deixando claro que ainda é um desafio traduzir sonhos em línguas locais. Mas ainda existem muitos desafios, sendo um deles a sustentabilidade das editoras, que tem tiragens ínfimas, que nem sempre são vendidas na totalidade.

Para Tamele, existem inúmeras oportunidades para as editoras independentes lideradas por jovens. Indica que é preciso apostar nas novas tecnologias e dar voz a autores desconhecidos, fazendo com que eles alcancem o grande público. Além disso, apontou que é preciso tirar as minorias do silêncio. A título de exemplo, a editora no início do ano lançou uma chamada para a publicação de livros infanto-juvenis, conto ou romance inédito de todas as mulheres (cis, trans e não binárias) moçambicanas. A ideia é buscar novos talentos de autoria no feminino. Sobre o futuro, a editora espera abrir uma livraria em Marracuene, erguendo estantes com livros 40% mais baratos para ampliar a inclusão e diversidade. Enquanto a ideia continua no papel, a Trinta Zero Nove fomenta a leitura neste local através do seu recém-criado clube de leitura, o M’thini wa Wutivi.

A Trinta Zero Nove, para este ano, pretende continuar a abrir novos horizontes, desafiando e conquistando o seu espaço, uma palavra traduzida de cada vez.

Edição 82 JAN/FEV| Download.

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