Conferências Índico
Importância dos ODS nas organizações
O director-geral da LAM – Linhas Aéreas de Moçambique, João Carlos Pó Jorge, desafia as empresas e organizações nacionais a apostarem para o alcance dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) com vista numa economia mais sustentável.
Falando durante a primeira edição das Conferências Índico, subordinada ao tema: “ODS e os Índices ESG em Moçambique: Desafios e oportunidades para as empresas e organizações nacionais”, realizada recentemente pela Índico, Revista de bordo da LAM, o gestor explicou que numa altura em que o país vem se deparando com diversos desastres climáticos, os ODS devem servir de DNA institucional por forma a alinhar a economia a um ambiente sustentável.
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Pó Jorge referiu que, na aviação, no ano passado, durante a Assembleia Geral da Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO), decidiu-se embarcar por um compromisso de net zero até 2050.
“E foi a primeira vez que na aviação foi dado um objectivo em tão longo prazo. Mas acho que isso é o grande desafio que temos, porque são passos arrojados que vamos ter e acho que precisamos de alterar o DNA para as futuras gerações terem um país, um planeta sustentável”, frisou o responsável.
O objectivo da net zero, explicou, tem a ver com a decisão do País para reduzir a temperatura ambiente. São objectivos que nos põem a mudar completamente aquilo que é a aviação. “Tudo vai mudar, portanto, vale a pena embarcarmos nisso. Não é uma opção, já é uma obrigação que temos perante o mundo. Por isso, encorajo debates de que se tirem algumas lições para, no futuro, alinharmos a estratégia das nossas empresas para este desenvolvimento sustentável”, acrescentou.
Governo sobre ODS
“Ainda existe um longo caminho por percorrer”
O vice-ministro dos Transportes e Comunicações, Amilton Alissone, na abertura da Conferência, começou por elogiar e destacar a importância da Revista Índico, no processo de desenvolvimento socioeconómico do País. “Isto complementa o brilhante trabalho que tem vindo a desenvolver há mais de 30 anos da sua existência, como revista de bordo na nossa companhia de bandeira, as Linhas Aéreas de Moçambique (LAM)”, enalteceu o vice-ministro.
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No que dizia respeito ao debate, o ministro explicou que Moçambique e o mundo encontram-se empenhados na implementação dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas. “Apesar de assinaláveis progressos no campo económico, social e ambiental, frisou, sublinhando que, em Moçambique, é notável o compromisso de várias empresas e organizações públicas e privadas, desde o sector financeiro ao produtivo, no sentido de promover o desenvolvimento do país com base num crescimento sustentável em cumprimento dos critérios estabelecidos pelas Nações Unidas”.
Segundo Alissone, tal como referem os índices definidos pelas Nações Unidas sobre ODS, o desenvolvimento sustentável deve ser visto na plenitude, abrangendo para além da componente ambiental, factores como a estabilidade social, económico, bem como a formulação de políticas públicas. Por isso, “como Governo, reiteramos o nosso compromisso de continuar a implementar reformas para a promoção do desenvolvimento sustentável no quadro do cumprimento da Agenda 2030 das Nações Unidas, de que Moçambique é parte integrante e actor activo”.
Sustentabilidade e protecção do meio-ambiente
Moçambique tem dado passos significativos, mas ainda há muito por fazer, principalmente quando se fala do acesso ao financiamento para o desenvolvimento de iniciativas sustentáveis e de inclusão social.
Intervindo em Maputo, na primeira edição das Conferências Índico denominada “ODS e os Índices ESG em Moçambique: desafios e oportunidades para as empresas e organizações nacionais”, mais especificamente no painel sobre “Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável”, o director de Financiamentos Inovadores da Fundação para a Conservação da Biodiversidade (BIOFUND), Sean Nazerali, disse que a biodiversidade é fundamental para o crescimento económico, frisando que a mesma está alinhada com o desenvolvimento das grandes cidades, pois ajuda na erradicação da pobreza. “Nenhum objectivo é alcançável num cenário em que há insustentabilidade do meio ambiente. Os recursos naturais são uma fonte de rendimento e têm grande importância. Temos de melhorar o estado de conservação e investirmos na sustentabilidade”, explicou.
De acordo com Nazerali, devem ser criados incentivos, através da disponibilização de crédito bancário acessível para que as empresas possam actuar no ramo ambiental e promover práticas que ajudem na conservação dos recursos, tal como os investimentos não podem terminar no gás natural e na exploração de areias pesadas.
“Não se respira gás natural, não se come titânio. Neste sentido, há que se investir a sério na biodiversidade”, vincou.
Partilhando da mesma opinião, o CEO da HIMPACT e Chief Sustainability Officer da Hemera Capital Partners, Sidney Magalhães, frisou que se deve dar prioridade às iniciativas que impactam nos ODS, salientando que “quando entramos em harmonia, o ambiente produz como deve de ser e cria bases de sustento para as famílias”.
“São necessárias acções integradas de várias empresas e organizações públicas e privadas, que operam desde o sector financeiro ao produtivo, no sentido de ajudar Moçambique a alcançar os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável traçados pela Organização das Nações Unidas”, secundou.
A secretária-geral da Câmara do Comércio de Moçambique (CCM), Teresa Muenda, entende também que “impõe-se a nós o compromisso de satisfazermos as nossas necessidades actuais, sem comprometermos a capacidade de gerações vindouras virem também encontrar nesses recursos a satisfação das suas necessidades”.
O desenvolvimento sustentável, pensa, obriga a que assumamos compromissos e responsabilidade de promovermos condições e modelos de vida social e económica que cumpram para a garantia da sustentabilidade das gerações presentes e futuras.
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A este respeito, o membro do conselho executivo do Banco Comercial de Investimentos (BCI), Rogério Lam, explicou que como forma daquela instituição dar o seu contributo na aposta dos ODS, “existe uma linha de crédito voltado à gestão de resíduos renováveis, mas com taxas de juros bonificados”. Além disso, “existem outras parcerias que o BCI e produtos que temos vindo a desenvolver que espelham o seu compromisso com a componente de sustentabilidade”.
Por sua vez, o director de planificação de sistemas e engenharia da Electricidade de Moçambique (EDM), António Munguambe, avançou que em termos dos ODS, a empresa está neste momento a desenvolver uma estratégia de transição energética. “Há uma série que a EDM está a desenvolver no que tange à diversificação da matriz de geração energética. Estamos a trazer para o nosso sistema a implementação de uma nova matriz de energias renováveis”, reiterou Munguambe.
Urgência do Índice ESG
O termo ESG (Environmental, Social and Governance) é literalmente algo novo para o dicionário da maioria dos moçambicanos. Mas a sua implementação é quase um imperativo, tendo em conta que este é crucial para que se alcance o tão propalado desenvolvimento sustentável.
Segundo Luís Magaço, o presidente do conselho de administração da Associação de Comércio, Indústria e Serviços (ACIS), uma agremiação que congrega mais de 600 empresas, há ainda falta de produção ou de publicação de relatórios sobre a implementação do ESG por parte das grandes empresas que operam em Moçambique. “No geral, estas empresas não publicam relatórios sobre ESG. Contudo, as pequenas e médias empresas, apesar das dificuldades, vão cumprindo uma parte das suas obrigações sobre esta temática”, salientou.
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Também por isso, uma das acções que esta associação desenvolve por parte dos seus filiados é a promoção do ESG com vista a identificar e consciencializar as empresas sobre esta temática.
Por sua vez, o director da direcção de subscrição de Seguros Não Vida e representante da empresa moçambicana de seguros (Emose), Titos Ernesto Gemo, considera a implementação do ESG como um compromisso para uma vida melhor para todos, destacando a necessidade de se investir em campanhas educacionais para consciencializar as empresas sobre os impactos positivos da adopção do ESG. “Oferecemos produtos que priorizem a saúde, o ambiente e a segurança no trabalho”, considerou o responsável.
A representante da ECP – Sustentabilidade e Desenvolvimento, Açucena Paul, entende que os ESG são vistos como um “braço” da sustentabilidade financeira. “Apesar de não ser um termo novo, há agora, uma certa urgência para a sua implementação”, afirmou Paul.
Edição 81 Out/Nov/ Dez| Download.
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