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Texto: Eduardo Quive

Foto: Black & White | Multichoice

Edição 80 Jul/Ago/ Set| Download.

João Ribeiro – Entre cinema e televisão

Quando se fala de João Ribeiro para o grande público moçambicano, o nome é associado ao sucesso do “Último voo de flamingo”, a longa-metragem que lhe valeu o reconhecimento público, além de premiações internacionais. Mas este produtor e realizador de cinema “vem de longe”.

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Com uma marca na televisão, João Ribeiro, embora veja o audiovisual a melhorar em vários aspectos, acredita que ainda não é sustentável diante das actuais condições do mercado. “Somos dos países que têm mais televisões em sinal aberto, são cerca de trinta ou quarenta canais de televisão registados.”

Essa quantidade de canais seria um bom sinal para a indústria, se houvesse variedade nos conteúdos. “Poderíamos ter canais mais especializados. Canais de desporto, canais de documentários, canais de ciência, de investigação, mas não temos nada disso”.

Actualmente, João Ribeiro lidera o Maningue Magic que está, de certa forma, a revolucionar o mercado de produção de conteúdos. A estratégia do canal tem passado pela contratação de produtoras para a criação de conteúdos de qualidade. “As pessoas gostam, pagam para ver o canal. Se houvesse mais investimento, certamente que estávamos bem”.

João Ribeiro tem no exemplo do trabalho desenvolvimento pelo canal que está a dirigir como prova que há capacidade e profissionais para criar. “Lançamos uma chamada e recebemos sessenta e uma propostas de projectos de seriados. Há uma capacidade interna de fazer coisas. Claro que não são todos bons, mas temos a volta de cinquenta projectos de produção, com orçamento, com ideias, com sinopses, toda uma estrutura. Portanto, há essa capacidade da produção.”

A grande procura pelos profissionais também prova que é preciso criar-se uma fonte de financiamento. Não basta o esforço de um só canal.

“Nós pagamos a produção para recebermos esse conteúdo com qualidade. Mais nenhum canal está a fazer isso. É a primeira vez que está a acontecer isso em Moçambique. Temos também uma novela que vai para o ar todos os dias que também tem o seu custo.”

A paixão de João Ribeiro, que começou na tenra idade a partir da fotografia, é o cinema. Uma paixão que está longe de ser sustentável.

“Já tivemos uma indústria porque tínhamos uma cadeia de valor, não só permitia a produção, mas a exibição dos conteúdos e a distribuição pelo país. Hoje não temos nada disto. Temos um grupo de pessoas que fazem cinema experimental ou cinema de autor, não temos nada neste momento que se pareça com o que se chama indústria de cinema.”

A posição de João Ribeiro justifica-se pelo actual contexto nacional. Actualmente, só há uma sala de cinema comercial, em Maputo e provavelmente mais alguma pelas províncias. O que, entende, não há como ele ser rentável, embora haja uma certa dinâmica, devido ao desempenho dos centros culturais que, porém, não dão conta do que poderia ser um negócio na sétima arte.

Fora o cenário de difícil financiamento ou investimento, refere que é uma área que “dá dinheiro”.

“Dentro da nossa profissão, dentro daquilo que fazemos, obviamente que se ganha dinheiro. Quando fazemos um filme ganhamos um salário e às vezes muito bom.”

Mas é noutras áreas do audiovisual onde o dinheiro mais circula.

“Na publicidade, em Moçambique, hoje ganha-se bem. Podes fazer, por um spot publicitário de um minuto, por aí 80 a 100 mil dólares. Mas também, obviamente, que as pessoas envolvidas nesse trabalho ganham de acordo com as exigências desse trabalho.”

Está certo que neste momento é na televisão que está o seu foco e é notável a mudança que está a gerar aos profissionais do audiovisual. Mas o caminho o levará de volta, um dia, aos filmes.

“Isso é o que sempre me deu prazer de fazer. Mas fazer isso, como foi na minha última longa-metragem “Avó Dezanove e o Segredo do Soviético”, leva dez a doze anos. Infelizmente esse volume de produção não é rápido, diferente de outro tipo de trabalho. Isso é o que gosto de fazer, mas o que me dá dinheiro na verdade, ainda estou para descobrir”.

Edição 80 Jul/Ago/ Set| Download.

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