Sérgio Zimba – “O meu cartoon não é só para rir”

Que Sérgio Zimba é dos maiores, senão o mais consagrado cartoonista em Moçambique, já se sabe e talvez seja um cliché afirmá-lo. Mas, com o passar do tempo, esse facto vem se confirmando pela regularidade da sua produção e por continuar a fazer sorrir e dar que pensar aos moçambicanos, naquele jeito local de se expressar.

Com mais de 40 anos de carreira, Sérgio Salvador Domingos Zimba, que nasceu na vila de Ressano Garcia, entre as montanhas que separam Moçambique da África do Sul, tem a sua paixão por estórias a partir da infância, das vivências desse tempo, do local e ambiente onde cresceu até da experiência com a leitura.

Em meio a circunstâncias em que o apego aos livros era pouco provável, Zimba deixou-se levar pelas revistas da época, por estórias em quadrinhos, o “tio Patinhas” como o próprio cita. “Sempre gostei de ler. É por isso que tenho a facilidade de, além de desenhar, escrever os textos.”

O seu hábito e prática de leitura são uma das mais importantes chaves do seu sucesso. Zimba devorou os romances com vontade de ser um personagem ou… um autor. Vistas as coisas nestes tempos, pode se considerar realizado. É hoje autor e, como nos conta, por vezes, personagem das suas “mafenhas”, usando-se do título do seu primeiro livro.

Os cartoons, as personagens e paisagens que neles retrata saem-lhe de forma natural, só encontra uma justificação divina para esse talento.

“Tenho o dom natural de desenhar e tenho um sentido de humor. Por outro lado, gosto de escrever, estou sempre a fazer anotações de coisas. Essas duas capacidades fazem com que consiga fazer os cartoons.”

Deve ser um caso especial de Moçambique por estar vinculado ao órgão de informação que o projectou. Entrou para a Sociedade Notícias pela sua aptidão para a área gráfica, mas logo o “karma” o puxou para a publicação do cartoon no semanário domingo. Foi lá onde se revelou e criou uma legião de fãs.

Durante os cerca de 40 anos, foi publicando os cartoons quase religiosamente. Passou a fazer parte da extensão da notícia, pela atenção que dá ao drama e aos acontecimentos dos moçambicanos e dos acontecimentos inclusive reportados no jornal: a corrupção, o nepotismo, os dilemas das vivências nos bairros de Maputo, e a mais famosa sátira que implica os trabalhadores moçambicanos na África do Sul.

Ser um narrador de histórias reais, mas com o génio da simplicidade e do desenho quase a exagerar o que os olhos vêem no dia-a-dia, gerou um impacto que não podia medir. Recorda-se que em vários momentos recebeu comentários de pessoas que se reviam nas situações que contava. Todo esse enredo gerou um compromisso com os leitores.

“E apostei mais a sério no cartoon e publiquei os livros que todos conhecem. Tenho cerca de onze livros publicados. Agora há o décimo segundo no prelo”.

Sérgio Zimba recusa-se a ser tido apenas como um fazedor de humor. Seu objectivo nunca foi o riso, foi antes, construir uma narrativa através do insólito e por si só, essa narrativa é que provoca a reacção espontânea dos apreciadores do seu trabalho: rir e dar-se uma pausa para olhar os problemas da vida sem se pensar que é o fim do mundo.

“O meu cartoon não é só para rir, há sempre uma mensagem que pode servir para corrigir uma situação anómala na sociedade.”

Para alguém que passou grande parte da sua vida a provocar as reacções mais inusitadas de crianças e adultos, olhar para o tempo e os acontecimentos é crucial. Zimba olha ainda para o seu tempo e vê que há ainda muitas estórias por contar. Continuar activo e atento, fazendo chegar o seu cartoon às novas gerações. Mas pensa também no legado.

“Podia se dar mais valor ao trabalho artístico no seu todo. Se cheguei até aqui, me mantendo activo, é porque sou teimoso. Sei que todas as pessoas gostam do cartoon, temos que encontrar formas de fazer o cartoon chegar às pessoas”.

Se cheguei até aqui, me mantendo activo, é porque sou teimoso.

Edição 79 Maio/Junho| Download.