Mark Meiring – “Sempre soube que queria ser arquitecto”
Torres Rani, duas babéis envidraçadas a levar-nos ao céu possível.
Hotel Southern Sun, um ambicioso polvo a esticar os tentáculos como se quisesse abraçar o mar.
Modernidade e tradição, estéticas próprias, como se as mãos a coreografar o lápis para o grafite riscar o papel em branco fossem distintas.
Mas há um nome, o mesmo nome, de sul-africanas mãos que assinam as obras. E tiramos o véu do rosto quase sempre invisível do arquitecto. Mark Meiring é o nome-mãos-rosto da firma sul-africana Mesch cujo traço tem estado a marcar a arquitectura da cidade de Maputo. É também quem assina o edifício da Hollard Moçambique, na Baixa da cidade. O traço de um parque de escritórios de luxo ainda em construção e de uma escola de hotelaria há muito atrasada. Mas estão também por trás de projectos de habitação em massa, como a Aldeia de Reassentamento em Afungi, Palma – Cabo Delgado.
“Sempre soube que queria ser arquitecto”, diz Meiring.
Aos 12 anos, a mão inquieta a projectar no papel as imagens oníricas que queria ver erguidas a meio da rua dava certeza do que queria ser. Os caminhos feitos na África do Sul colocaram-no deste lado da fronteira e em paisagens mais distantes como na República Democrática do Congo e no Zimbabwe.
A mão continua inquieta sempre a pensar numa arquitectura que dá identidade às cidades. Mas a cada 10 projectos, revela, apenas dois ou três tornam-se – para usar um substantivo de construções – concretos. Talvez por isso ainda se envaideça com os projectos que passam do papel. “Há sempre a noção satisfatória de um novo projecto que nos deixa animados novamente”.
Aprendeu, sem romantismos, a conviver com este pesadelo que são as restrições orçamentais a obrigar o desvio dalguns traços nos projectos originais. “Temos que aceitar, mas é gerenciado através do fornecimento de soluções alternativas que ainda reflectem o conceito original do arquitecto”.
Mas não abre mão da preocupação com o ambiente que se tornou a forma como ele e a firma trabalham. Ainda mais urgente, com a superlotação das cidades a demandar cada vez mais por alimentos, energia e água. Com o eterno verão de África, pensa, parece um desperdício não aproveitar o sol gratuito para energia sustentável. “A energia verde, como eólica e solar, é o futuro e precisamos encontrar maneiras de torná-la mais barata e acessível a todos”, indica.
Edição 79 Maio/Junho| Download.
0 Comments