Casa Amarela – Um raio de luz

O sol escaldante, 33 graus, mas está fresco no Orfanato Lar Tiberíades, Município da Katembe, cidade de Maputo. Enquanto as brisas do mar sopram, as crianças brincam, os membros da associação A Casa Amarela (ACA) alegram-se por ver aqueles sorrisos, que são o seu maior troféu.

As canções que as menores do orfanato entoam podem ser escutadas até na rua, Sérgio Bento, um dos membros fundadores da ACA, instituição formada por ele e um grupo de mulheres, maioritariamente moçambicanas, explica-nos que elas hoje estão mais eléctricas devido a nossa presença. Mas nem sempre foram alegres, grande parte delas tem um passado que daria um melodrama triste e sombrio. Inês Pedro, educadora de infância da ACA, sabe disso. Conta que, com a intervenção da associação, os dias ficaram menos monótonos, pois as actividades extracurriculares desenvolvidas pelo seu colectivo são um raio de esperança a estas crianças em situação de vulnerabilidade.

Inês sabe que não existem fórmulas para pintar um sorriso no rosto de uma criança, mas garante que a atenção e o tratamento personalizado operam mudanças.

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“Quando iniciamos, as crianças eram retraídas, mas aos poucos vão se abrindo, o que dá maior espaço para o seu desenvolvimento pessoal”, detalha, acrescentando que está a ser construído um programa de formação específico para meninas com mais de 15 anos, a fim de prepará-las para a universidade ou emprego.

Sérgio de Almeida, educador de infância da ACA, acredita que elas são capazes disso. Além de ver elas com emprego e formadas, a luta diária deste profissional é a formação de seres humanos com carácter e princípios. Quando pode, conta sua história de superação para inspirar os mais novos. “Sou órfão de pai e mãe, passei parte de minha vida num internato, mas hoje sou formado, tenho emprego e família”, conta, acrescentando que fazer parte de um projecto social que trabalha com quatro centros, assistindo a 90 menores, muitos deles órfãos, deu outro propósito a sua vida.

Elodie Maggia, Fundadora e presidente, aponta que um dos aspectos que lhe mantém firme na jornada é o apoio dos membros e parceiros, que estão comprometidos em apoiar os menores para que possam se desenvolver e melhor se prepararem para a inclusão social nas suas comunidades e fora.

Guiado pela mesma fé, Sérgio Bento, que também é Líder de Projeto, acredita no crescimento do colectivo e espera duplicar o número de centros com que o seu colectivo trabalha e aprimorar o programa extracurricular específico para os órfãos.

“Em breve vamos incluir aulas de inglês, costura, culinária, natação, fotografia. Um dos nossos pontos fortes é o apoio psicológico e queremos adicionar a terapia psicomotora”, detalha, acrescentando que o projecto visa permanecer eterno e sustentável.

No entanto, para que isso seja realidade é necessário que mais pessoas e instituições apoiem a iniciativa, como é o caso de Clara Bankole, de nacionalidade francesa, que é membro da ACA. Responsável por uma instituição de viagem (Atiba Voyage), cada expedição que a empresa realiza uma parte do lucro reverte em ajuda a uma criança.

“Esperamos que mais pessoas venham abraçar o projecto. Fazer parte da iniciativa e ver o sorriso dos pequenos é um privilégio”, disse enquanto olhava fixamente para a alegria de Alma Tembe, de 18 anos, que vive no Orfanato Lar Tiberíades desde os nove anos.

Proveniente de uma família carenciada, antes trabalhava num bar para garantir pelo menos duas refeições diárias a família. Mas hoje, longe do drama, seu sorriso é fácil. Ela tem consciência que para evoluir tem de garantir a sua formação profissional que esta dividida entre ser enfermeira e eletricista.

“A minha vida agora é mais animada, já não é só escola e ficar no orfanato a contar pássaros”, conta Alma, detalhando que as actividades oferecidas pela ACA estão a revolucionar a sua vida, mostrando que os seus sonhos são realizáveis.

Edição 76 Nov/Dez| Download.