Menu & Search

Texto: Pretilério Matsinhe

Foto: Júlio Marcos

Edição 74 Jul/Ago | Download.

 

Deisy Nhanquile – “Quero ser a nova menina de ouro”

Quando Deisy Nhanquile viu Ernesto Sumindila entrar pela porta da sua sala de aulas, na Escola Primária Completa do Triunfo, mal sabia que aquele encontro mudaria sua vida.  Sumindila procurava novos talentos para a natação. Para Deisy, não foi difícil tomar a decisão, já que vivia perto da praia e, de vez em quando, dava uma escapadinha para nadar. “Chamavam-me até de peixinho”, diz-nos.

Depois de dominar a natação, o convite para aprender vela não demorou. Deisy, como sempre, não recuou, embora no princípio não gostasse tanto da modalidade. “Tinha 10 anos e, às vezes, fazia muito frio”.

O mar também lhe roubava a infância. Já não podia mais brincar aos bonecos, visitar uma amiga ou passar o fim-de-semana com a avó. “Outro dia, atravessamos à vela para Xefina. Os mais crescidos estavam à frente. Comecei a chorar, tive muitas imaginações e voltei no meio do percurso”.

Publicidade

Hoje, aos 22 anos de idade, quando a vemos no mar, esse passado parece muito distante. As várias medalhas que carregou ao peito também são disso prova. Competir em Tóquio, foi o momento mais marcante na sua carreira. Mas também a materialização de um sonho que já vinha perseguindo há anos e que queria alcançá-lo com o devido mérito. E como isto vai bem, o talento dela pincelou a estrada (ou o mar) para que fosse competir ao mais alto nível.

Ainda assim, sente fome de vencer. Deisy quer atracar noutros portos e trazer à Moçambique uma medalha de ouro. “Quero ser a nova menina de ouro. A luta é que isto se materialize até 2028”.

E sabe que quando se quer competir a nível internacional, não basta ter talento, é preciso treinar, melhorar as técnicas e estar sempre concentrado. “Gostar do que se faz é indispensável. Quando estou a competir, sinto que não existe o barco, eu e o mar. Somos um só. O barco e o mar me completam e me deixam leve”.

E até aqui fez o caminho com o apoio da família. Do pai que incentivou a ida aos treinos e da mãe presente nos momentos de angústia. “Só não gosto que me venham ver a competir. Minha mãe chora muito”.

Agora, além de frequentar o curso de Gestão Desportiva, na Universidade Eduardo Mondlane, é treinadora, tendo neste momento nove atletas. É onde vai forjando sonhos de outras campeãs, a pensar que um dia poderão hastear a bandeira de Moçambique noutras paragens.

Edição 74 Jul/Ago | Download.

 

0 Comments

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.