Ângela Pedro Francisco – A senhora do cockpit
Conhece a cabine de comando como ninguém. Este espaço foi parte de sua rotina por décadas. Hoje está reformada, entra nas aeronaves como passageira, mas a história da aviação nacional guarda o seu legado.
Co-piloto de profissão, Ângela Pedro Francisco por mais de 22 anos foi a única mulher a desafiar as alturas, seu trajecto inspirou a nova vaga de mulheres que desafiam a área, que por muito tempo foi masculinizada.
Para entender o seu percurso, temos de conhecer suas origens. Filha de pai enfermeiro e mãe modista, passou os primeiros anos de sua vida entre os bairros de Xipamanine, Chamanculo e Central. Amante do desporto, conta que foi o basquetebol que a conduziu às Linhas Aéreas de Moçambique (LAM). Nos anos 1980, jogava pelo Maxaquene, que era patrocinado pela LAM, que abriu espaço para que algumas das jogadoras fizessem parte da instituição.
Quando as admissões começaram, Ângela pediu para cursar pilotagem, mas o pedido não foi aceito, pois ainda existiam vozes que acreditavam que a pilotagem era uma área somente para homens. Adiou o sonho por 7 anos, ingressou na LAM no controle de tráfego, à espera de uma oportunidade para estar no cockpit.
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O momento chegou: “foi um dia estranho, estava atrasada e era complicado apanhar transporte, por isso apanhei boleia. Na conversa, descobri que o condutor era instrutor de aviação e as inscrições para o curso de pilotagem terminavam dentro de horas e estavam abertas para mulheres”, conta, detalhando que, em horas, tratou toda a documentação, inscreveu-se. No ano seguinte, começou o processo formativo. No início, existiam três mulheres, mas só uma terminou a formação.
O curso era prático e exigia muito de Ângela, que foi passando as fases, uma a uma, até se tornar co-piloto. No seu trajecto, destacou-se nos voos comerciais.
Mas a sua história não foi só de glória, existiram batalhas que a mulher teve de travar, sem comprometer o seu carácter. “Sou uma pessoa perseverante e gosto do que faço”, conta, indicando que o bom-humor e o silêncio venciam piadas azedas.
Com trabalho, Ângela foi conquistando o seu espaço e, depois de 22 anos como a única mulher no cockpit, abriu espaço para mais mulheres. Apesar da luta, sente que poderia fazer mais. “Já temos três mulheres comandantes e sinto que podemos ter mais”, indica, apontando que espera um dia voltar ao cockpit. “Terminei a carreira por tempo de trabalho, mas nada me impede de continuar a voar”, disse.
Com trabalho, Ângela foi conquistando o seu espaço e, depois de 22 anos como a única mulher no cockpit, abriu espaço para mais mulheres.
Longe do que mais gosta, actualmente dedica-se à família, seu único filho e aos três netos. Nos finais de semana joga basquete, pois a idade não é uma barreira. E ainda viaja, dança e escuta música, pois a vida é uma viagem contínua.
Edição 74 Jul/Ago | Download.
1 Comment
Ângela Maria Pedro Francisco
Uma das mulheres que nunca desistiu, eu admiro muito ela e tenho um diário onde contém toda a sua infância , os primeiros anos de escola,onde nasceu o seu interesse pelo basquetebol ,…. é isso ,depois de ter lido aquele diário a anos sonho em ser como você