Vila Artística Dans´Artes – Um espaço de transformação
Em 2008, já doutoranda em Estética, Ciências e Tecnologias das Artes, opção Teatro/Dança, a coreógrafa e bailarina moçambicana Maria Helena Pinto criou, para o fim da etapa académica, um desafio que lhe prestasse honra pelos anos de aprendizagem: construir de raiz uma vila artística para criações, difusões e intercâmbios artístico-culturais numa povoação. Sem dinheiro e nem apoio, o sonho gerou outras lutas: vender a sua própria casa na capital e, com o valor, erguer um espaço multicultural. Hoje chamam-no Vila Artística Dans´Artes e inspira artes e sonhos a mais de 700 bolseiros e milhares de crianças da comunidade de Djonasse, no distrito de Boane.
Vila Artística Dans´Artes inspira artes e sonhos a mais de 700 bolseiros e milhares de crianças da comunidade de Djonasse, no distrito de Boane.
Um espaço vago, desértico, rochoso e no meio de uma comunidade desfavorecida era, até então, o mais próximo que se podia pensar nos anseios da bailarina e dentro das suas condições. Volvidos dois anos, com o dinheiro da casa vendida, Maria Helena Pinto conseguiu então lançar a primeira pedra, construindo um muro de vedação e um edifício principal projectado para ser uma escola. Era o nascer de uma esperança para as artes que logo, devido à escassez de verba, hibernou, deixando outra vez sonhos por concretizar.
Em Março de 2013, a bailarina voltou a redefinir os seus princípios e apostar na ousadia: organizou a primeira feira-espectáculo na inacabada vila artística sob o lema “Traga um Tijolo e Ajude a Construir a Vila Artística Dans´Artes”, um evento que contou com a participação de duas centenas de pessoas, incluindo autoridades governamentais, artistas nacionais e internacionais.
Surgiu assim o sonho que veio como um meio catalisador da indústria artística do país, em meio a constatação da falta de espaços para as atividades culturais e artísticas, para criações, difusões, laboratórios de criação e intercâmbios entre os artistas. “Inicialmente, o plano era de construir um teatro, mas pela experiência que fui colhendo ao longo da minha carreira, dentro e fora do país, senti que seria extremamente difícil tornar isso viável, economicamente. Então, pensei numa vila que pudesse abarcar também a questão comercial”, explicou a artista para quem “a ideia também era descentralizar as artes e seus movimentos, que estão só na capital do país”.
A vila, a funcionar desde 2015, tem actualmente infra-estruturas diversas, nomeadamente, café-padaria, casa de acolhimento, balneários/vestiários, estúdio de ensaios, atelier de corte e costura, onde se produz todo o tipo de indumentária para espectáculos e qualquer tipo de organização artística. Em construção, estão sala de teatro, três residências, ginásio, estúdio de gravação, internet-café, restaurante, piscina, guaritas e uma casa de acolhimento de artistas.
Vocacionada para intervir em quatro pólos – o desenvolvimento comunitário, cultural, social e económico –, a Vila Artística Dans´Artes já atribuiu bolsas de estudos a 700 alunos e formou milhares de crianças da comunidade de Djonasse, no distrito de Boane, nas áreas de dança, música, circo, artes plásticas e artesanato.
Há 19 anos, a vila cumpre o seu desiderato na formação de crianças, adolescentes e jovens. Amélia José Manuel Ezembro, 17 anos, é bolseira do Dans´Artes desde 2015. Para ela, a vila trouxe mais do que um simples espaço de convivências e aprendizado, mas impulsos que lhes ajudaram a encarrar de perto os seus medos e talentos. “Transformaram-me e ajudaram-me a perceber a vida através da dança”, confessou.
Edição 74 Jul/Ago | Download.
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