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Texto: Pretilério Matsinhe

Foto: Júlio Marcos

Edição 73 Maio/Jun | Download.

Ana Paula Sinaportar e Vanessa Muianga – “Não Há Limite Que Não Seja O Céu”

Quando Ana Paula Sinaportar (22 anos) e Vanessa Muianga (26 anos) decidiram abraçar o voleibol, não era a sua modalidade de preferência. “Queria andebol ou basquetebol”, conta Ana Paula. “A minha paixão era o futebol de salão”, recorda Vanessa Muianga.

Mas o destino cose melhor os caminhos. Ana Paula começou a jogar voleibol de salão em 2011, influenciada pela sua professora de Ciências Sociais, que via alguma potencialidade nela. Vanessa deu os primeiros passos em 2009, motivada por colegas de turma.

As duas não tiveram o mesmo apoio familiar. A mãe de Ana tinha medo. “Por causa da violência sexual e gravidezes indesejadas no circuito desportivo”, explica Ana Paula. “Os meus pais sempre foram liberais para com o desporto, desde que não trouxesse problemas para casa”, conta Vanessa.

Da quadra para a família levaram medalhas e reconhecimento. Os Jogos Escolares foram o trampolim para o sucesso. Vanessa competiu pela primeira vez em 2009, pela cidade de Maputo, e a sua equipa ficou com a medalha de prata. Para Ana, só foi em 2013, em Tete, e ficaram em quarta posição.

Depois, a vida seguiu e tratou de traçar o rumo de cada uma.

Da quadra para a família levaram medalhas e reconhecimento.

Em 2015, Ana recebeu e aceitou o convite para jogar pelos juniores da equipa da Universidade Pedagógica de Nampula, de vólei de salão. No ano seguinte, esteve num Nacional do escalão, realizado em Pemba, e saiu em segundo lugar. Em 2017, novamente, ficou na segunda posição no Nacional que teve lugar em Nampula. O tempo seguiu e em 2018 concorreu para o ensino superior e não foi admitida. Abriu-se outra porta na sua vida.

No mesmo ano, foi convocada para a Selecção de sub-19 de vólei de praia. Começava a sua saga. Por causa da distância, teve de sair de Chimoio, a sua cidade natal, para a capital do país. De Maputo, foi competir em países como Congo, Argélia, China e Argentina. No ano seguinte, 2019, voltou a concorrer e foi admitida na UP Nampula, mas as convocatórias para os compromissos da Selecção já eram recorrentes. “Isto já atrapalhava os meus estudos. Tive de me mudar para Maputo”, lembra Ana.

Na capital, jogou para a UP Maputo por empréstimo, até que, em 2020, muda-se para a Académica, onde está até hoje.

Enquanto isso, o destino ia costurando o caminho de Vanessa. Em 2009, entrou para o Clube de Maputo Jets, mas quando este se desintegrou foi parar ao Aliança, onde permaneceu até 2018.

Ana e Vanessa conquistaram o primeiro lugar nos jogos da Zona VI.

Mas no meio do percurso quase se desviou, qual uma bola de vólei quando encontra a tempestade pelo caminho. “Em 2014, estava na Escola Aeronáutica. Lá tinha uma equipa de futsal. Reacendeu o meu gosto pelo futebol, sem ter deixado o vólei”, conta Vanessa. Mas fazer duas modalidades desgasta o físico, rouba tempo e reduz o desempenho. Vanessa começou a ter lesões musculares. “Na mesma altura, os convites para a Selecção de voleibol de praia eram recorrentes. Decidi-me por essa modalidade e comecei a levar a coisa a sério”, conta. Decidida que estava, mudou-se, em 2018, para Nampula, onde jogou para a equipa da UP local. De regresso à capital, jogou para a UP Maputo, mas foi em 2020, que se juntou à Académica. No meio do percurso, Ana Paula e Vanessa conquistaram o mundo. Em diversas competições, já tiveram as distinções de melhor atacante, melhor rematadora, melhor serviço e MVP (Most Valuable Player – jogadora mais valiosa). Hoje, fazem uma dupla e tanto na Académica e na Selecção. Mas antes, jogaram juntas na UP Nampula. O destino depois arrastou-as para a UP Maputo. Treinam juntas como dupla há dois meses. Ana é reservada, Vanessa um pouco agitada. As diferenças em nada atrapalham. “Tem sido bom treinar com ela, estamos a pensar sempre em conseguir bons resultados. Este é o nosso objectivo, ter sempre um bom desempenho”, diz Ana. Mas, em algum momento, ficaram sem saber como iriam fazer, pelo facto de jogarem na mesma posição: atacante. “Nos treinos esforçamo-nos para nos compensarmos uma à outra. Vamos trocando de posição para ver quem tem o melhor desempenho”, diz Vanessa.

Quando o talento existe, o tempo pode ser um detalhe. Ana e Vanessa provaram isso ao conquistar o primeiro lugar nos jogos da Zona VI. “Isto diz muito sobre o nosso trabalho”, afirma Vanessa.

Entre conquistas, há também espaço para dores. “Não termos sido qualificadas para os Jogos Olímpicos de Tóquio foi um balde de água fria. Para nós não fez sentido pela posição que ocupamos no continente, quando se trata de voleibol de praia”, diz Ana.

O exercício de recuperação após a derrota é sempre penoso. Mas nada resta a não ser levantar a cabeça, ganhar forças e fazerem-se à quadra em busca da perfeição nos jogos. E de olhos postos no futuro, a meta é conseguir a sonhada qualificação para o Mundial de Voleibol de Praia, dominar a zona VI e trabalhar para estar nos próximos Jogos Olímpicos. “Basta que exista força de vontade e condições para treinar, não há limite que não seja o céu”, acredita Vanessa.

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