Ana Terrinca – Uma arquitecta com alma de artesã
“Desde muito cedo, desde que me lembro!” Foi assim a resposta à pergunta “De onde nasceu o amor pelo artesanato?”, que colocámos a Ana Catarina Terrinca. Conforme nos contou, fez a sua primeira exposição de pintura em faiança e porcelana com 9 anos, no Museu dos Fósforos em Tomar, Portugal. Aos 13, conhece a mentora, Higina Branco, com quem teve o primeiro contacto com materiais africanos. “A partir daí, vi o artesanato como uma fonte de rendimento. Licenciei-me em Arquitectura, profissão que exerço até hoje, mas sempre em paralelo com as artes e o artesanato.”
Fascinada pelo artesanato cooperativo, é também uma grande fã de pessoas, razão pela qual criar, em 2012, o Bairro Bistrô foi um passo tão natural. Ao desenvolver um projecto de construção emergente na Comunidade de Magoanine para as vítimas das cheias, a arquitecta deparou-se com várias pessoas sem fonte de rendimento, mas com o domínio de alguma forma de arte. Decidida a ajudar essas comunidades a colocar os seus produtos no mercado, tomou a decisão de intervir. “O projecto Bairro nasce assim, de forma a trazer os produtos desenvolvidos nos bairros para a Cidade e contribuir para o rendimento familiar.”
Bairro Bistrô nasce de forma a trazer os produtos desenvolvidos nos bairros para a Cidade e contribuir para o rendimento familiar.
“Trabalhar com as mãos é muito terapêutico, é alimentar a alma, trabalhar o coração e passar para o produto a paixão.”
O Bairro nasceu e é hoje quase que um local de culto para os aficcionados das artes que lá se dirigem para comprar, mas também para aprender. É que neste espaço são realizados workshops com os artesãos locais e, mais do que aulas, são uma oportunidade para conhecer pessoas, partilhar histórias de vida, relatos de viagens e muito mais. Afinal, é disto que trata a arte!
Ana confessa que a experiência de trabalhar com os artesãos locais tem sido “arrebatadoramente fabulosa”.
“Temos imensos artistas e artesãos com ‘mãos de ouro’, com capacidade de criar um produto com qualidade superior e trabalhar em conjunto. Cada um coloca as suas mais-valias na peça e faz com que se aprenda todos os dias e sejamos dependentes do trabalho de equipa, desde as equipas que compram a matéria-prima a quem cria e a quem vende.”
Questionada se o artesanato é uma vocação ou paixão, Ana admite que é os dois, “juntos e misturados, associados a uma terapia constante.”
Apesar de ter uma vida preenchida graças à profissão de arquitecta, encontra sempre tempo para o artesanato, actividade que lhe enche a alma. “Trabalhar com as mãos é muito terapêutico, é alimentar a alma, trabalhar o coração e passar para o produto a paixão.”
Satisfeita com o feedback positivo que tem recebido dos workshops que realiza no Bairro, Ana assume que o principal objectivo que traçou para os mesmos tem sido cumprido, que é o de ajudar o cliente a valorizar todo o processo de criação.
E para todos os que têm acompanhado o seu percurso deixa uma mensagem: “Viver e fazer o que gostamos com paixão, envolvendo outros que não têm a mesma coragem, mas que têm potencial.”
Edição 73 Maio/Jun | Download.
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