Paulo Oliveira – Sentido de missão
É o primeiro moçambicano a participar do campeonato do mundo de motociclismo.
Quando Paulo Oliveira, 48 anos de idade, decidiu abraçar o motociclismo de todo-o-terreno sofreu oposição dentro de casa: os pais consideravam perigoso. Ele persistiu pela afinidade com a moto desde tenra idade. Mas o facto de ter nascido numa família de classe média o impossibilitou de começar a pilotar ainda pequeno. Só aos 20 anos de idade é que teve a sua primeira moto, fruto do trabalho que realizou durante as férias escolares.
Dali, começou a treinar com regularidade, tendo chegado a participar em algumas corridas em Portugal, país onde nasceu. Ainda a sonhar com grandes conquistas, sofreu um grave acidente e teve de se retirar das pistas. Em 2009, muda-se para morar a tempo inteiro em Moçambique. Chegou a trabalho, mas ao longo do tempo foi como se tivesse sido nascido aqui, acabou adquirindo a nacionalidade moçambicana. Era o destino a ajudar a tecer o futuro. Em Maputo, conhece gente que ama motociclismo e decide retomar à prática da modalidade.
Começou por participar de alguns campeonatos regionais e em países como Marrocos, Portugal e Espanha. À medida que o tempo passava, foi acreditando que podia ir mais longe. Sonhou que podia chegar ao Rally Dakar. É a competição mais ambicionada pelos praticantes do motociclismo a todo-o-terreno. Para as outras modalidades, é como ir aos jogos olímpicos.
Paulo Oliveira, para materializar o sonho, teve de treinar todos os dias, sacrificar as horas com a família e reunir requisitos para a qualificação. Foi atrás até que em 2020 conseguiu a qualificação para o Rally Dakar, durante as provas de classificação realizadas em “Andalucia Rally”, na Espanha, tendo ficado em segundo lugar na sua classe.
No ano passado, participou de campeonato do mundo de todo-o-terreno em Baja Aragon, competição que se realizou na região de Teruel, na Espanha. No mesmo ano, esteve em mais uma representação internacional, onde conquistou o campeonato do mundo de todo-o-terreno em Baja, na Jordânia, tendo trazido a medalha de ouro na classificação individual e quinto lugar da sua classe para a sua equipa.
Paulo Oliveira fez história. É o primeiro moçambicano a participar do campeonato do mundo de motociclismo. Foi para lá com a missão de cumprir as 13 etapas e conseguiu. Em 14 dias, percorreu 8500 quilómetros, 13 horas por dia a pilotar uma moto. Pelo percurso, os obstáculos: pedras, montanhas, terreno não habitual, motor danificado, o que lhe fez perder 45 horas de corrida. Na quarta etapa sofreu uma queda e quebrou duas costelas. A dor era intensa, mas teve de engolir o choro, fazer do sentido de missão um analgésico e pilotar até completar as etapas. “As pessoas desistem, eu fui até onde queria”.
Com vários anos de estrada, já sabe que o desporto motorizado é uma modalidade de risco. “Requer 101 por cento de concentração. Qualquer erro é fatal”.
Talvez também por isso o motociclismo no geral passa por momentos tenebrosos no país. Não há competitividade interna. A massificação é uma miragem ainda, mas Paulo Oliveira tem já uma solução: criar uma academia. Há um acordo com ATCM (Automovel Touring Clube de Maputo) para albergar o centro de formação e já dispõe de algum material para o arranque das actividades previstas para este ano.
Os patrocínios são outra dor de cabeça, mas não desiste e sempre encontra uma saída, se há alguma coisa que aprendeu em competições em terrenos inóspitos é que há sempre uma saída. “Só queremos estar o mais à frente possível. Se virmos um adversário, vamos tentar ultrapassá-lo. É assim também na vida, não se pensa noutra coisa além de fazer melhor. Quando se está numa moto só se pensa em vencer”.
Já percorreu tantos quilómetros que declara: “Já não há medo. A velocidade não assusta. Nós é que a controlamos. Mas há sempre obstáculos, por isso devemos estar focados. Quando aumenta a velociodade, a atenção deve dobrar”.
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Edição 72 Mar/Abr | Download.
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