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Texto: Pretilério Matsinhe

Fotos: Aghi

Edição 71 Jan/Fev | Download.

Donaldo Salvador e patinagem que liberta

O primeiro verso da música “Mil Coisas”, do rapper brasileiro Emicida, diz que “é preciso residir num sonho”. A música chegou aos ouvidos do público em 2019, mas parece que Donaldo Salvador, 34 anos, natural de Quelimane, vive este verso desde que veio ao mundo.

Começou a praticar a patinagem aos 15 anos de idade, graças a um vizinho que tinha um par de patins e decidiu partilhar com ele o material. Foi naquele período que se lançou a semente que viria a fazer germinar um amor incondicional pela modalidade. Um ano depois, conseguiu comprar o seu par de patins, o que lhe permitiu a evolução da técnica e estabilidade. Mas nada dura para sempre, o par estragou-se, mas foi-lhe oferecido um novo par por um amigo.

E o amor pela modalidade foi crescendo, o número de praticantes também. Em 2003, já era parte de um grupo de 20 patinadores. Em 2005, assistiu ao mundial de Hóquei em Patins, onde Moçambique foi campeão do grupo B. A partir dali, Donaldo teve a certeza que podia, também, conquistar o mundo, ser parte do grupo dos campeões e orgulhar-se a si próprio pelo percurso de um vencedor.

Foi sonhando alto que, em 2006, contactou a Federação Moçambicana de Patinagem a pedir instruções para criar uma equipa de Hóquei em Patins. A agremiação mandou livros e manuais. Donaldo, junto aos colegas, estudaram e persistiram tanto que chegaram a usar bolas de ténis para praticar hóquei. A Federação se comoveu com a iniciativa e foi à Zambézia visitar os jovens, ofereceu 20 pares de patins, bolas, joalheiras, luvas, entre outros materiais, assim como disponibilizou um técnico para orientar os jovens.

Em 2007, Donaldo Salvador conduziu o processo da formação da Associação de Patinagem de Quelimane. Trabalhou na massificação da modalidade na província, mas Zambézia tornou-se pequena. Em 2009, mudou-se para a capital do país e filiou-se ao Clube Maxaquene e continuou a evoluir.

Em 2015, experimentou Patinagem em linha e o casamento deu certo. Participou em campeonatos locais, venceu várias provas a nível regional, conquistou títulos e sentiu que estava preparado para outros desafios. Falhou a competição mundial de 2017, mas em 2018 esteve na maratona mundial, em Berlim, na Alemanha. Foi um desastre, teve o pior tempo. “A temperatura não me ajudou”, diz. Mas como isto vai longe, está a caminho da próxima maratona do mundo, também em Berlim.

Em 2018 levou a patinagem em linha para Quelimane e Ilha de Moçambique. Viajou pelo país a estudar possibilidades de criar associações e escolas da modalidade. O projecto até então teve sucesso em Vilanculos, mas a pandemia da Covid-19 parou tudo.

Donaldo está a caminho da próxima maratona do mundo

Um homem de desafios, no dia 02 de Junho de 2021 saiu de Quelimane com destino a Maputo. A ideia era chegar na capital do país no dia da Independência e honrou com o compromisso. Foram 1640 quilómetros a patinar e a transmitir mensagens de esperança e de consciencialização sobre várias doenças que afligem aos moçambicanos.

Este ano quer realizar a maratona de unidade. A festa vai partir de Cabo Delgado, no dia 10 de Maio e o objectivo é que termine na Ponta de Ouro, no dia 25 de Junho. “Queremos que tenha o nome da paz e unidade”.

Entretanto, com muitos anos de prática, ainda sente que a modalidade fica na cauda de esquecimento, mas está a lutar para massificá-la. Tem uma escola de formação na Académica, na UEM, onde ensina gente desde os dois anos de vida. Dá aulas particulares, é formado em Educação Física. Acredita que o desporto é ciência e deve ser estudado em todas as vertentes. E declara: “a patinagem, além de realizar sonhos, estimular a inteligência e saúde, ela liberta. Acima de tudo, patinar é ser humano”.

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