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Texto: Elton Pila

Foto: Eric Ferrer

Edição 70 Nov/Dez | Download.

Fundação Khanimambo

Uma janela para o horizonte

Contam-se agora 15 anos, tendo beneficiado mais de 800 crianças e jovens, entre os 2 e os 23 anos.

Nascida em Portugal, Alexia Vieira sempre teve consciência da natural herança colonial e sempre se sentiu do lado errado da história. Mas se sobre o “terrível passado” já nada pudesse fazer, decidiu fazer alguma coisa para mudar o presente e também o futuro de outras pessoas e com isso mudar o dela também.

Com 23 anos, ao abrigo da cooperação suíça, efectuou uma série de visitas a diversas províncias de Moçambique. Foi em 2006, um ano que lhe fica na memória pelas experiências intensas com famílias que viram a vulnerabilidade limitar-lhes o horizonte. Um ano depois, decidiu abdicar da vida que a licenciatura em jornalismo na Espanha a pudesse proporcionar e instalou-se em Gaza.

Não foi por acaso. A falta de um projecto como o que queria implementar, as minas da África do Sul que sempre seduziram os jovens em Gaza e o crescente número de casamentos prematuros a fizeram fixar ali os arraiais.

“Na vida temos sempre duas opções, olharmos para nós ou para os outros”. E ela escolheu olhar para os outros e a Fundação Khanimambo foi esta mão ao queixo de centenas de crianças para que olhassem para o céu e sonhassem com um futuro que talvez de outra maneira não fosse possível.

Khanimambo, que em português significa obrigado, é um projecto integral, que vai da educação a saúde, passando pelo apoio psicossocial. Mas não quer substituir a escola, mas servir de complemento a educação formal, facilitando o acesso à educação de crianças e jovens carentes. E chegam através de projectos específicos como “Swivanana”, que é de educação infantil; “A Escolinha”, que são aulas diárias de reforço escolar; “Xipfundo”, que oferece bolsas de estudo para formação superior ou profissional e um acampamento de verão que chega sob o nome “Ungata”. E, como dizem, não são apenas ideias, são factos que podem ser apresentados também em números. Neste momento, pelas suas mãos, estão cerca de 50 crianças na creche, cerca de 200 em escolas primárias, perto de uma centena em escolas secundárias e perto de 30 em formação profissional ou universidade.

Mas a ideia primeira é colocar a família no centro de tudo, uma prova de que querem mudar a partir de dentro, a acabar com o machismocerceador de sonhos. “O lugar para a criança desenvolver é na família”, indica.

As crianças são acompanhadas desde aeducação infantil até a faculdade sob os olhares de 46 atentos colaboradores, alguns deles passaram pela Khanimambo, mas há também espaço para voluntáriosmoçambicanos e estrangeiros que querem ser esta ponte ao outro.

Contam-se agora 15 anos, em benefício de mais de 800 crianças e jovens, entre os 2 e os 23 anos.

“Khanimambo” é Alexia a agradecer pela oportunidade que lhes proporcionaram para fazer diferença, para se colocar no lado certo da história, a agradecer quem a apoia nesta busca peladiferença; mas é também um agradecimento que volta para ela das 800 crianças e jovens que beneficiaram e beneficiam do projecto, mas que chega também pela voz dos pais destas que têm consciência de que a Fundação Khanimambo foi a janela a abrir os horizontes dos filhos, permitindo-lhes sonhar mais do que era suposto.

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