Textos: Hermenegildo Langa e Elton Pila
Fotos: Samantha Robinson, Mauro Pinto e António Silva
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Especial Indústria
Os olhos postos no futuro
Com os olhos postos num futuro próspero, ancorado na industrialização do país, a AIMO e a Executive Moçambique têm o privilégio de apresentar mais uma edição do Especial Indústria.
Esta edição tem como principal foco a região sul do país, abrangendo as províncias de Gaza e Inhambane, com o objectivo de mostrar o potencial do sector industrial nestas duas parcelas da zona sul do país bem como o seu contributo para a economia nacional.
Fazendo jus às características do país, Gaza e Inhambane têm um enorme potencial em termos de recursos naturais, faunísticos e de terra arável, o que faz das duas províncias um destino a ter em conta para investimentos em áreas estratégicas como a Agricultura, o Turismo e a Indústria (transformadora e extrativa).
A construção do Aeroporto de Chongoene e a eleição do Vale do Limpopo como primeira Zona Económica Especial Agrícola do país são dois investimentos estruturantes que vão, sem dúvidas, catapultar Gaza.
Esta edição escala, igualmente, a província de Inhambane para ajudar o caro leitor a rememorar o que a “boa gente” tem do bom e do melhor: a Agricultura, a Pesca e o Turismo, vistos como as principais âncoras económicas da província.
Já é um dado adquirido que há muito que Inhambane entrou para a rota da Indústria Extractiva com o investimento de Temane, feito pela SASOL em parceria com o governo de Moçambique.
Terminamos este editorial reiterando que as edições “Especial Indústria” constituem uma plataforma de expansão do Network de negócios e parcerias a nível local, nacional e internacional.
Por uma indústria dinâmica, moderna e competitiva.
Osvaldo Faquir
Director Executivo – AIMO (Associação Industrial de Moçambique)
Breves
▶ PIB moçambicano regista crescimento
O Produto Interno Bruto (PIB) de Moçambique registou um crescimento de 1,97% no segundo trimestre deste ano comparativamente a igual período de 2020, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). É o segundo trimestre consecutivo de crescimento, após uma alta de 0,12% no primeiro trimestre de 2021, sinalizando uma recuperação da crise causada pela pandemia de Covid-19.
▶ Uma FACIM diferente
Sob o lema “Industrialização: Inovação e Diversificação da Economia Nacional”, a 56ª edição decorre de forma híbrida por conta da pandemia da Covid-19. O formato presencial da FACIM durou apenas uma semana, entre 30 de Agosto e 05 de Setembro, mas a plataforma virtual permanecerá online por nove meses. Apenas a província de Maputo foi representada em Ricatla, as outras províncias e cerca de 24 países participam de forma virtual.
▶ Vale perto de duplicar produção de carvão
A empresa mineira Vale Moçambique aumentou em 92% a produção de carvão no segundo trimestre de 2021 comparando ao trimestre anterior, totalizando 2,1 milhões de toneladas. “A Vale Moçambique esteve perto de duplicar os níveis de produção de carvão, comparativamente aos primeiros três meses de 2021”, lê-se na nota sobre o Relatório Financeiro e de Produção da mineradora. De acordo com o documento, com a venda do carvão, no segundo trimestre, a empresa arrecadou 168 milhões de dólares, que correspondem a um aumento de mais 56 milhões, em comparação com o primeiro trimestre.
▶ Air France passa a voar entre Paris e Maputo
A transportadora Air France anunciou o início de voos Paris-Maputo a partir de 02 de Dezembro. Os voos entre as capitais francesa e moçambicana, assegurados por um Boeing 777-300 ER, terão escala em Joanesburgo, África do Sul, e serão efectuados duas vezes por semana. “Moçambique emergiu como um destino comercial importante devido às suas reservas de energia naturais. No entanto, o turismo também é uma mais-valia do país”, faz notar a companhia francesa.
Gaza e Inhambane
O futuro da indústria à porta
A Agricultura e Turismo são os sectores que tentam ancorar a economia de Gaza. O projecto das areias pesadas de Chibuto é até agora o único investimento de grande valor nestas últimas três décadas em Gaza.
A construção de um aeroporto no distrito de Chongoene e a eleição do Vale do Limpopo como primeira Zona Económica Especial Agrícola do país dizem muito do caminho que Gaza quer seguir.
De acordo com a directora provincial da Indústria e Comércio de Gaza, Lúcia Matimele, os recursos são vários e as oportunidades também e os pontos fortes da economia da província de Gaza advém em grande escala dos recursos naturais que detém e da sua localização geográfica.
“Temos recursos invejáveis, como terra arável, madeira, pedra, argila, areias pesadas, sem deixar de lado a nossa larga costa, com pouco mais de 150km de extensão”, considera Matimele.
Mais adiante, a fonte explicou que a rede industrial da província é constituída por micro-indústrias, sobretudo nas áreas de carpintaria, processamento de cereais e panificadoras, todas de pequena escala.
“De uma rede composta por 727 unidades industriais, a província de Gaza tem apenas uma grande indústria, que é o Complexo Agro-Industrial de Chókwè (CAIC), uma unidade que comporta três linhas de processamento: de arroz, tomate e de castanha de caju. Compõem ainda a rede industrial, cinco unidades de média dimensão e 24 de pequena dimensão, sendo as restantes de Micro dimensão com peso de cerca de 96%”, enumerou a directora provincial.
Contudo, nos últimos dois anos o sector vem conhecendo uma relativa estagnação no crescimento, influenciado pela pandemia da Covid-19.
“Algumas unidades do ramo alimentar com maior contribuição na produção industrial e na disponibilização de postos de trabalho encerraram parcial ou totalmente. Ainda assim, de 2020 a 2021, o desempenho do I Semestre registou um crescimento na ordem de 6%”, aponta, acrescentando que as unidades de processamento de arroz e milho registaram ganhos significativos, com variações positivas que vão de 6% a 37%.
Quanto as receitas, a directora provincial revelou à Revista Índico que até o final do mês de Julho a província registou um volume de negócios de cerca de 594,89 milhões de meticais.
Enquanto a agricultura, pesca e aquacultura são considerados os sectores que lideram a economia daquela província, com uma comparticipação de 54,44%, o impacto do sector industrial não é ainda significativo, contribuindo com apenas 1,9% e o extractivo abaixo de 1%.
Já a província de Inhambane tem na Agricultura, Pesca e Turismo as principais actividades económicas.
Os produtos agrícolas mais destacados são a mandioca, milho, hortaliças, feijões e coco. Em relação a este último, a província dividia o protagonismo com Zambézia. No entanto, numa altura em que a produção dos coqueiros na Zambézia teve uma redução significativa, Inhambane tem estado a ser a aposta, incluindo para alimentar a Zambézia, como faz notar Marie Darenberg, a proprietária da Boa Gente, uma marca que também se dedica a produção de óleo de coco.
O turismo de sol e praia que se pratica ao longo de quase todo o ano, sobretudo na região norte de Inhambane, representa também uma grande fonte de receitas.
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, listados no Censo de 2018, são mais de 500 as estâncias hoteleiras, empregando 5 865 trabalhadores, sendo que recebem turistas sobretudo da África do Sul com uma estadia média de 12 dias.
Mas há muito que Inhambane entrou para a rota da Indústria Extractiva. O investimento em Temane, feito pela Sasol, enquadrado no contrato de partilha com o governo, revisto em 2020, vai permitir a produção de 23 milhões de Giga joules de gás natural por ano, que serão usados na produção de 30 mil toneladas de gás de cozinha por ano, refere o Ministério dos Recursos Minerais e Energia moçambicano.
CASOS DE ESTUDO
Vale do Limpopo, um celeiro que volta a ganhar vida
A nível da região sul do país, quiçá em todo o território nacional, o Vale do baixo Limpopo sempre teve um papel importante no que a segurança alimentar diz respeito. Grande parte do excedente que Moçambique produz, sobretudo cereais e hortícolas, tem a sua origem o Vale do Limpopo.
No entanto, nas últimas duas décadas, as cheias cíclicas que atingiram a província de Gaza retraíram a produção naquele que já foi apelidado de celeiro do país. Contudo, nos últimos anos, o Vale de Limpopo volta a ganhar brilho graças a alguns investimentos estrangeiros e internos.
Segundo o governo provincial, a revitalização do regadio do Baixo Limpopo iniciou em 2011, com a criação da Empresa Pública Regadio do Baixo Limpopo (RBL) que pretende-se viabilizar e garantir o melhor aproveitamento do espaço através de intervenções centradas bem como dar assistência técnica aos produtores e fazer ligação dos produtores com o mercado.
“Com esta revitalização, as áreas infraestruturadas evoluíram de 4000 hectares para 17 000 hectares”, disse Armando Ussivane, Presidente do Conselho de Administração (PCA) do RBL.
De acordo com o responsável, a transferência de tecnologias melhoradas de produção de arroz permitiu com que a produção melhorasse passando das 3 600 toneladas produzidas na campanha agrícola de 2011/12 para 30 mil na campanha 2019/20.
Óleo Boa Gente
A promoção da produção local
A marca – Boa Gente – existe já desde 2010. A fábrica de produção do óleo de coco nasce em 2017 da necessidade de Marie Darenberg, a proprietária, de produzir alguma coisa com a bandeira maior da província de Inhambane. Começou com cerca de dez colaboradores, hoje são perto de 30. “Todos moçambicanos nascidos e a viver em Inhambane”, indica Marie. Numa produção em cadeia, em que cada um tem uma responsabilidade definida, o processo começa com a escolha do coco sempre fresco, passando pela etapa do ralar com uma pequena máquina que torna o trabalho menos braçal e depois por uma chapa também aquecida com a casca para retirada da água – nada se perde, tudo se aproveita – até a retirada do óleo prensado ao frio, sem aditivos, 100 natural e que solidifica abaixo de 26 graus centígrados. “Temos uma produção, em anos normais, de 7 mil litros”. Fazendo a rota Inhambane – Maputo e depois o resto do país, a aposta é mais no mercado nacional, mas já se começa a piscar para o internacional. Da estética à gastronomia são várias as formas em que se pode usar o óleo de coco da marca Boa Gente. Mas não é apenas o óleo que faz a marca, há também o sabonete, o mel, o piri-piri, as frutas secas, tudo na mesma aposta de produtores locais.
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