Menu & Search

Texto: Paola Rolletta

Fotos: Cedidas pela Yao Crochet

Edição 69 Set/Out | Download.

Yao Crochet – Os bonequinhos do Niassa

Grupos de mulheres e cursos para aprender as técnicas de croché do Amigurumi japonês estão a multiplicar-se nas aldeias da Reserva do Niassa. Esta é uma revolução suave e silenciosa: com linhas e croché estão a mudar a sua visão da natureza e da sua própria vida. Reproduzem os animais que mais lhes davam dor de cabeça nas suas machambas e nas suas casas. São leões, elefantes, macacos, crocodilos feitos com croché debaixo de árvores, conversando e rindo, que são vendidos nas lojas de Maputo e até no estrangeiro.

Tudo surgiu por causa de uma depressão. Paula Ferro, bióloga especializada em conflito homem-animal a trabalhar na Reserva durante muitos anos, viu os projectos nas águas da amargura quando os fundos internacionais começaram a ficar reduzidos. Todo o trabalho que estava a desenvolver junto das comunidades estava em risco de ficar letra morta.

“Os animais são um pesadelo para as pessoas daqui – comenta a bióloga – além disso, a Reserva não oferece muitas oportunidades de geração de renda e a caça furtiva acaba por ser a sua única fonte de sustento”.

Para ultrapassar a sua depressão, Paula começou a fazer croché seguindo a antiga técnica japonesa dos Amigurumi, criando personagens e imitando objectos da vida real, mas com um toque suave e fofo.

Essa técnica despertou a curiosidade de Aquila Mpetela, um senhor numa aldeia do Bloco L7, que quis aprender. Paula pediu-lhe para fazer um leão. “Saiu uma espécie de monstrinho. E não porque não tivesse aprendido a fazer croché, mas porque a ideia que tinha do leão era de monstro que matava pessoas e destruía tudo”, explica.

Foi aí que ela começou a pensar nas tantas palavras que tinham sido gastas para convencer as pessoas da importância da natureza, dos animais… Gandhi dizia que são as acções que contam. Os nossos pensamentos, por muito bons que sejam, são pérolas falsas até se transformarem em acções. Para sermos a mudança que queremos ver no mundo, às vezes basta tão pouco: linha e agulha de croché…

Ninguém queria seguir os passos de Paula e Aquila. Só quando a bióloga teve a ideia de organizar o Yao Crochet é que as coisas mudaram. Virou um projecto comunitário dentro da Reserva Especial do Niassa, com o objectivo de capacitar as mulheres e as comunidades através de brinquedos de croché de tricotar, estimulando a criatividade e o amor para a natureza.

“Através dos animais feitos de linhas coloridas, sensibilizamos para a importância da conservação e do seu ambiente – comenta Paula – os bichinhos meigos que saem das suas mãos já não são monstros que matam e destroem tudo”.

Com o dinheiro que ganham a partir da venda dos bonecos, as mulheres reforçam a sua autonomia financeira e já podem comprar o que precisam para o lar. Na prática, uma revolução…

Edição 69 Set/Out | Download.

0 Comments

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.