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Texto: Eliana Silva

Foto: Aghi

Edição 69 Set/Out | Download.

Quando a periferia é centro

Cecília Mahumane quer mudar mentalidades. A realidade, tal como ela existe, é o principal objecto da jovem mentora do projecto “Chamanculo é Vida”, uma iniciativa que conta as histórias da periferia da capital moçambicana.

Cecília é irrequieta. Essa energia e vontade de mudar aquilo que a rodeia contagiou Domingos Branco, Cândida Raul e Waka Tembe Júnior, jovens maputenses que vivem no distrito de Nhlamankulu e que fazem parte desta onda de mudança. Na prática, aquilo que pretendem com o projecto “Chamanculo é Vida” – que abrange 11 bairros do distrito, incluindo Xipamanine e Malanga – é mostrar um novo lado dos bairros periféricos da capital, quebrando os pré-conceitos de pobreza, desorganização e más condutas: “A ideia da criação do projecto é ajudar no crescimento social, económico e cultural dessas comunidades”.

E como é que Cecília conta cada capítulo destas histórias? Através de entrevistas aos moradores do bairro, a comunicadora constrói uma plataforma com os trabalhos, os projectos e as cores de cada morador. Este é um espaço da comunidade. Uma iniciativa comunitária onde se privilegia uma visão real, colorida e honesta do quotidiano de milhares de moçambicanos.

Mahumane, Branco,  Raul e Tembe Júnior são uma nova geração que concretiza a mudança.

“Gostaríamos de comunicar o produto que é produzido nesses bairros periféricos, falar sobre a sua história para que as pessoas saibam o que é periferia de verdade (…) Acima de tudo, procuramos mudar a percepção que as pessoas têm sobre a periferia, a partir do momento em que o próprio projecto assume-se/apresenta-se numa identidade local, do gueto, quando associamos alguns projectos sociais junto com os artistas locais, de modo a dar mais voz a tudo o que acontece na periferia. E arte nesse caso tem o poder de comunicar”, partilha com entusiasmo a criadora do projecto.

Na prática, Cecília e os seus companheiros têm a pretensão de replicar noutros bairros este modelo de plataforma através do associativismo onde cada morador teria a oportunidade de implementar as suas ideias num modelo local, de modo a resolver problemas como: falta de documentação sobre esses bairros periféricos, higiene e saneamento, consumo de drogas, etc.

Mahumane, Branco,  Raul e Tembe Júnior são uma nova geração que concretiza a mudança. Com os olhos bem centrados na identidade moçambicana e na sua riqueza, querem fazer da essência da periferia a sua bandeira. Um projecto que começa no Chamanculo mas cujo objectivo é que cresça tanto como o desenvolvimento socioeconómico do país: “A ideia do projecto é de funcionar como uma grande plataforma que ajuda no crescimento das comunidades periféricas, dando espaço a criação de incubadoras locais, bibliotecas comunitárias, residências artísticas locais, centros de formação”, declara Cecília com um olhar no futuro.

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