O drama da pandemia no sector informal
“Nada pode ser tão mau que não possa piorar”, assim diz um ditado popular. Este é o reflexo daquilo que se assiste actualmente nos vários sectores, sobretudo no informal, desde que a pandemia eclodiu. Um sector que, muito antes da pandemia, já vinha padecendo de vários problemas.
No país, o sector informal foi sempre uma das áreas da actividade económica mais penalizada pelas autoridades devido a falta de organização, mas também por ser um dos negócios que obstrui a ordem nos centros urbanos. E, com a pandemia, o cerco ficou mais apertado, muitos vendedores viram o seu negócio falir com a adopção das medidas restritivas para conter a propagação do vírus da COVID-19.
O impacto foi directo sobre os vendedores informais. Antes das medidas para conter a propagação da COVID-19, o Município de Maputo já tinha lançado uma campanha de evacuação das ruas e passeios a toda actividade económica aí desenvolvida, o que começou por instalar a crise no seio dos vendedores.
O negócio informal de venda de água de coco e do sumo de cana-de-açúcar foi por vários anos a principal fonte de renda familiar para muitos jovens que deambulavam quase sempre pelas diversas artérias da cidade de Maputo. No entanto, a pandemia chegou e o negócio ficou literalmente engolido.
Embora continue um e outro a exercer, nota-se a retracção da actividade. “Está tudo parado, o que ganho agora não chega para nada, o movimento caiu bastante”, considera Titos Albino, um dos comerciantes que continua a exercer o negócio.
Actualmente, Titos Albino não trabalha ao longo da praia da Costa do Sol e da avenida 10 de Novembro, locais que eram o epicentro desta actividade, pois poucas pessoas têm ido a esses locais excepto os que praticam as suas actividades físicas.
Não é só este negócio que ficou afectado pela pandemia, toda a actividade informal ficou sufocada desde Março, período em que foi decretado o primeiro estado de emergência no país.
Marta Elias é vendedeira ambulante de amendoim torrado e desde o ano passado não vê o negócio a fluir como antes da pandemia. “Agora já não compram muito como era antes, mas também já não circulo muito por medo da pandemia. Prefiro ficar numa e única esquina”, indica Marta.
Toda a actividade informal ficou sufocada desde Março de 2020, altura em que foi decretado o primeiro estado de emergência no país.
Os economistas Aleia Rachide e João Mosca, num estudo intitulado “Impacto da COVID-19 sobre os agentes económicos informais na cidade de Maputo”, fazem notar que há um enorme sacrifício no exercício da actividade dos agentes do comércio informal em mercados, ruas e passeios, pois o fluxo do movimento também baixou ligeiramente. Como consequência, “a perda de rendimentos foi significativa no âmbito das medidas de precaução contra a propagação do vírus”.
“Nota-se ainda uma redução do esforço das pessoas que exercem essa actividade, o que é medido pelo tempo da jornada de trabalho, o que culmina com a redução do volume de vendas e, consequentemente, do rendimento líquido”, apontam os dois economistas.
Por sua vez, o município considera que não é o seu desejo ver as pessoas a passarem fome, porém, “queremos evitar a propagação deste vírus e eliminar esta transmissão comunitária em que a cidade de Maputo se encontra”.
João Munguambe, vereador da economia local no município de Maputo, garantiu que “o nosso objectivo é que a população esteja segura e sem o risco de ser contaminada pelo COVID-19”.
Segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), calcula-se que a economia formal gere 700 mil empregos, no entanto, aproximadamente 11 milhões de pessoas vê-se forçada a procurar a sua subsistência numa variedade de actividades do comércio informal. Agora com a pandemia, o futuro destes passou a ser uma incógnita.
Edição 66 Mar/Abr | Download
2 Comments
Gostaria de fazer uma correcção: não é amendoim tourado mas sim amendoim torrado.
Muito bom dia caro leitor.
Obrigado pelo seu reparo.
Continuação de boa leitura e de um bom dia