Assa Matusse não quer ser colocada numa caixa, mas a ter de ser colocada numa, que seja uma com vários ritmos, como a do afrofusion.
Assa Matusse não quer ser colocada numa caixa, mas a ter de ser colocada numa, que seja uma com vários ritmos, como a do afrofusion. A voz, rouca e masculina, é o diferencial da música que faz. É uma lufada de ar fresco no afrojazz, ritmo que marca “+ Eu”, o álbum de estreia, mas que está longe de definir a artista.
GANHOU O PRÉMIO REVELAÇÃO NO NGOMA MOÇAMBIQUE DE 2013. ESTE PRÉMIO COLOCOU PRESSÃO PARA OS TRABALHOS QUE VIRIAM A SEGUIR?
Colocou alguma responsabilidade. Depois de ganhar um prémio, é preciso continuar a fazê-lo valer. Não foi uma pressão má. Foi uma pressão para continuar a fazer bem o trabalho. Nada que me colocasse contra a parede.
O PRÉMIO FOI ANTES DE LANÇAR O ÁLBUM, SERVIU DE IMPUT?
Já tinha o plano de ter o álbum. Quando concorri ao prémio, só tinha gravado a música “Estranho”, com a qual ganhei o Ngoma. Na verdade, aproveitámos o facto de haver o Ngoma para testar se estávamos no bom caminho. Mas o prémio não foi o passaporte para o álbum, já tínhamos o plano.
“+ EU” SUGERE UMA ASSA QUE SE QUER IMPOR À MARGEM DAS
OPINIÕES DOS OUTROS, À MARGEM DA FAMA FÁCIL. ESTA IDEIA FOI PROPOSITADA?
O álbum foi uma forma de impor-me, sobretudo, olhando para a minha história. As oportunidades não estão onde fui nascida. Mas eu fui atrás. É o que me faz andar de cabeça erguida e o título do álbum foi a pensar nisso. A fama nunca foi o meu objectivo.
O PRIMEIRO ÁLBUM IMPÔ-LA COMO UMA VOZ DO AFROJAZZ. MAS SABEMOS QUE NÃO GOSTA DE SER ASSIM ROTULADA. PORQUÊ?
Fiz afrojazz, mas hoje não é o estilo que mais me identifica. Não gosto de ser a voz do afrojazz, porque é como se me colocassem numa caixa. Eu não faço apenas afrojazz, faço música. Há muita fusão na música que faço, mistura de estilos, o afro está sempre lá, porque sou africana, então aceitaria mais o afrofusion.
O TIMBRE VOCAL É O QUE MAIS CHAMA ATENÇÃO QUANDO A ESCUTAMOS. COMO LHE CHEGA ESTA VOZ?
Os amigos e família riem-se muito da minha voz rouca, principalmente, ao falar. Há quem diga que tenho voz de homem. Minha mãe brinca dizendo que pareço uma bêbeda. Nos países por onde passei, a minha voz chamava muito a atenção das pessoas, que queriam saber de onde vem. É o meu diferencial, a minha arma não assim tão secreta, o que tenho de mais atraente.
DISSE, NOUTRO DIA, TER PROBLEMAS PARA ESCREVER SOBRE AMOR, MAS TEM ALGUMAS MÚSICAS NO ÁLBUM. DE ONDE VEM ESTE CONSTRANGIMENTO?
Comecei muito cedo a levar muito a sério esta coisa da música. Mas, na minha família, com 18 anos, ainda se é uma criança. Pensava sempre que o meu pai perguntaria o que sei sobre amor. Para quem só dançar era proibido, imagina escrever uma letra de amor, falar de amor. A educação religiosa também contribuiu para esse constrangimento. As três músicas de amor que estão no álbum não foram escritas por mim, foram escritas por um outro compositor. Mas ainda assim senti constrangimento para cantá-las.
VIMO-LA NO PALCO DO CENTRO CULTURAL FRANCO-MOÇAMBICANO, NAQUELE QUE FOI O PRIMEIRO CONCERTO AO VIVO, DEPOIS DE A COVID-19 NOS TER FECHADO EM CASA. COMO FOI A EXPERIÊNCIA?
Estava com saudades de ouvir e sentir a conexão com o público, de ouvir palmas e gritos de euforia. Foi emocionante, apesar de o número ter sido reduzido por conta das medidas de prevenção. Foi uma noite histórica, que marcou o reinício das nossas vidas, o despertar da esperança para a classe artística. Mas também senti hesitação por parte do público em aderir ao espectáculos, não só pela pandemia, mas também por se terem desabituado de ir aos concertos.
Texto: Elton Pila
Foto: Jay Garrido
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