Revista Índico - Sobre Os Ombros De Gigantes
Há revistas que são maiores do que as páginas que as compõem. Carregam uma história, um legado, uma bandeira até, que em muito ultrapassa o formato confinado de uma folha A4. E há revistas que são um acto de amor. Amor pelos leitores, amor pela arte da edição, amor pelo texto, pela imagem, pelo layout que une tudo numa harmonia intangível que muitas vezes não se qualifica. Apenas se respira.
A revista Índico, criada em 1988, representa tudo isto. E para culminar esta trajectória de 32 anos marcada pelo cunho pessoal de tantos e tantos colaboradores, acaba de ser distinguida como “Melhor Revista de Bordo de África – 2020” pela World Travel Awards (WTA), mais conhecida como “Os Óscares do Turismo”. Depois de ter sido finalista em 2019, este ano a publicação oficial das Linhas Aéreas de Moçambique granjeou, numa primeira instância, o voto do júri para, de seguida, conquistar a votação do público. “Para nós como companhia é uma grande honra, orgulho e causa de satisfação receber este reconhecimento dos nossos clientes, passageiros, amigos e leitores da nossa revista de bordo”, afirmou o Director-Geral da LAM, João Pó Jorge.
Produzido desde 2016 pela Executive Moçambique, o actual projecto editorial nasceu de um processo criativo onde imperam a excelência, o talento e a dedicação de uma vasta equipa. “O nosso primeiro objectivo foi mostrar o que não se conhece de Moçambique, que hoje, quatro anos depois, sabemos que é ainda melhor do que aquilo que aparece nas brochuras turísticas em todo o mundo”, explica Ana Filipa Amaro, directora editorial do Grupo Executive. Recordando o processo de selecção de colaboradores, o director de fo- tografia, Vasco Célio, comenta: “Após um moroso trabalho, descobrimos que Moçambique tem alguns dos melhores fotógrafos de África, e hoje orgulhosamente podemos dizer que alguns deles estão ao nosso lado a abraçar este”.
Para Inês Maia, responsável pelo design gráfico da revista, “a nossa missão é mostrar pormenores. Pormenores que nos apresentam novos lugares, culturas e pessoas e que nos transportam para todos os tipos de sensações. Mostram-nos e lembram-nos o bom da vida e muitas vezes o mais simples!”.
Reflectindo sobre o prémio da WTA, Mia Temporário, Directora-Geral da Executive Moçambique, considera que ele representa, acima de tudo, “o cumprimento do dever”. “Por tudo o que a LAM tem feito em prol de Moçambique, este prémio é imensamente merecido. Orgulha a todos os moçambicanos e a nós editores”, acrescenta.
Quando a Executive Moçambique assumiu a produção da revista, em 2016, tinha pela frente o enorme desafio de honrar a herança de alguns nomes maiores da nossa cultura: Calane da Silva, Joaquim Salvador, João Costa, Artur Ferreira e Nelson Saúte. “A revista marca várias gerações e, em todas as suas transformações, conse- guiu ser sempre um microcosmo da própria sociedade moçambicana”, considera Adam Yussof, antigo director de comunicação da LAM e, nessa qualidade, director da revista. Como dizia Isaac Newton: “Se eu vi mais longe, foi por estar sobre os ombros de gigantes”.
No entanto, uma revista é feita, sobretudo, pelos seus leitores. Foram eles que, ao longo destas três décadas, conferiram à Índico o estatuto de “culto”, tornando-se, para muitos, uma peça de colecção. Para Frederico Jamisse, editor da revista entre 2016 e 2019, a Índico “sempre funcionou como uma bússola orientadora para os nacionais e estrangeiros, pois por menos que conheçam o país e as suas ma- ravilhas, uma vez dentro dos aviões da nossa companhia de bandeira, têm disponível informação exaustiva sobre parte do património inesgotável do país”.
E a Índico é feita também pelos milhares de rostos que, em dezenas de edições, desfilaram pelas suas páginas, compondo o retrato de um país com alma de mosaico. Entre esses rostos, Paola Rolletta, uma das mais antigas colaboradoras da publicação, recorda o de Judite Macuácua, proprietária da empresa de agro processamento Wissa, que muito recentemente lhe enviou uma selecção de produtos acompanhada de uma carta escrita à mão agradecendo a reportagem que Paola fez durante uma deslocação a Nampula com o fotógrafo Mauro Pinto. “Fiquei comovida pela bondade dos produtos e pela beleza das palavras”, reconhece Paola. “Não era a dona Judite que me devia agradecer pela reportagem que a fez conhecer fora de Nampula, mas sim eu agradecer pela simpatia e pela lembrança”. Regressando ao momento de fecho da primeira edição da actual série da revista, Ana Filipa recorda: “Tínhamos as quase 100 páginas da revista coladas nas paredes da sala onde estávamos a trabalhar. Cada pessoa que entrava na sala tinha uma reacção diferente, e numa manhã vi na cara de uma empresa: orgulho, espanto, admiração, felicidade, esperança, confiança e amor… Não esquecerei nem esse dia, nem essas pessoas”.
Por tudo isto, a Índico é mais do que uma revista – é um símbolo nacional que agora nos orgulhamos de apresentar como “A Melhor Revista de Bordo de África”. Obrigada a si, caro leitor, por nos acompanhar nesta viagem.
Texto: Cristiana Pereira
Foto: Vasco Célio
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