Reciclagem De Plástico - Um Negócio Que Transforma Vidas
O rosto esculpido pelo tempo diz mais da vida que leva do que propriamente da idade que tem. As rugas são traços de um mapa a mostrar os caminhos por onde andou ao longo dos seus 39 anos, que parecem, na verdade, muitos mais. Há exactamente 20 anos que Rita Cossa faz da lixeira de Hulene o seu local de trabalho. “É minha empresa”, diz como que a brincar.
Sai de casa, que não fica muito distante da lixeira, pelas 6 horas para escavar a grande rocha de resíduos à procura de bacias quebradas, cadeiras velhas, pedaços de mesas ou garrafas PET. É uma espécie de procura pelo ouro, num tempo em que os resíduos de plástico faltam para as centenas de mãos que se dedicam a procurá-los. São homens e mulheres que, enquanto procuram o que lhes salva da fome, também ajudam a salvar o meio ambiente, diminuindo a pressão do plástico sobre a terra. “O dinheiro não é muito, mas, pelo menos, faz com que os meus filhos não roubem”, diz Rita.
O circuito de reciclagem foi dinamizado por pequenas empresas, como a Valor Plástico, que fica mesmo ao lado da lixeira e se dedica a compra de resíduos de plástico para os transformar em flocos e, de seguida, vender às indústrias que poderão levar o processo a etapa seguinte. Na voz do coordenador, Luís Stramotas, a Valor Plástico quer fazer da reciclagem um mecanismo de luta para combater a desigualdade social e permitir a inclusão de camadas mais vulneráveis da sociedade na economia. Com menos de um ano de trabalho, a fábrica já tem ca- dastrados 820 catadores. “Cada um recebe 100 meticais em média”, diz Stramotas, um valor que está acima da possibilidade de refeições diárias de grande parte das famílias moçambicanas. “Isto comprova que a reciclagem pode ser usada como meio de intervenção social.” Também às grandes indústrias, como a Topack, talvez a maior produtora de objectos plásticos em Moçambique, a reciclagem chegou. A empresa criou uma área específica para comprar directamente aos catadores o lixo plástico, que depois é separado e transformado em flocos, depois em pellets, aos quais é adicionado o plástico virgem para produzir novos objectos de plástico. A Topack foi fundada em 1995, época em que o debate sobre o meio ambiente e sobre os malefícios do lixo plástico não era ainda tão aceso. Mas com o tempo foram fazendo parte de um movimento mundial que quer salvar o ambiente. “Pegamos em resíduos que contribuiriam de forma bastante negativa para a terra, reciclamos e convertemos noutros artigos de plástico”, explica Jaime Lima, director geral da empresa. Cerca de 40% do plástico usado para produção dos produtos na Topack é reciclado.
Texto: Elton Pila
Foto: Ricardo Franco
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