Calce as botas, coloque o chapéu e encha um cantil de água: prepare-se, porque tem mais de 700 quilómetros de trilhos demarcados por onde escolher, com a possibilidade de pernoitar em pequenos hotéis de charme, banhar-se nas melhores praias da Europa, degustar uma gastronomia rica e variada e deleitar-se com o fruto de vinhas seculares.
A chamada “Rota Vicentina”, na região portuguesa do Alentejo, oferece uma rede de caminhos pedestres ou de ciclismo, alternados entre o litoral e o interior, com cerca de 200 empresas de diversos ramos associadas a esta iniciativa que visa promover o desenvolvimento da região.
Lançada em 2013 como uma rota de percursos pedestres no sudoeste de Portugal, a rede conta hoje com 750 km para caminhar organizados em três categorias: caminho histórico, trilho dos pescadores e percursos circulares. Adicionalmente, conta com mais de 1.000 km de circuitos de bicicleta.
Entre os 24 percursos circulares disponíveis, a nossa escolha recai sobre o das dunas do Almograve, que se estende ao longo de 8,5 km. Depois de um saboroso almoço composto por petiscos do mar, prepara- mo-nos para três horas de caminhada repartida entre um trilho de areia ao longo da costa e um caminho interior por entre campos agrícolas.
O grau de dificuldade é reduzido e ao longo do caminho existem vários pontos com indicação da direcção a seguir – a margem de erro é mínima. A parte mais desafiante é mesmo a travessia de uma ribeira que desagua na praia, fazendo com que o trilho deixe de ser momentaneamente visível.
Iniciamos a caminhada num passadiço de madeira na praia do Almograve. A paisagem é lindíssima, sobretudo nesta parte costeira: de um lado dunas desérticas cobertas de vegetação rasteira; do outro, arribas agrestes fustigadas pelas ondas do Atlântico. Depois de quatro quilómetros ao sol, viramos para o interior onde nos aguarda um caminho surpreendente no meio de um canavial, com uma sombra refrescante onde apetece simplesmente pousar.
Entre dois dedos de conversa e momentos de introspecção, ocorre-nos que este é um exemplo interessante de colaboração entre o sector público e privado. Para implementar a “Rota Vicentina”, foi criada uma associação privada, sem fins lucrativos, juntando empresas de aloja mento, restauração, animação cultural, transportes, comércio local, entre outros. Baseada no conceito de responsible travel, a rede procura assim contribuir para a protecção do meio ambiente, defesa e respeito pela comunidade e identidade locais, assim como o apoio à economia local. Distinguida com a certificação europeia de “leading quality trails – best of Europe”, a iniciativa gerou 1.400 postos de trabalho; segundo os dados mais recentes disponí- veis, recebeu em 2017 perto de 24 mil caminhantes, gerando um valor adicional bruto de 8 milhões de euros (cerca de 682 milhões de meticais ao câmbio actual). Um sinal claro de que é possível fomentar o sector do turismo de forma sustentável, procurando um equilíbrio justo entre a protecção do ambiente, o desenvolvimento das comunidades locais e a viabilidade comercial das empresas.
▶COMO IR
Viaje com as Linhas Aéreas de Moçambique num dos voos semanais oferecidos na rota Maputo-Lisboa. Chegando à capital portuguesa, recomendamos que opte pelo transporte próprio para poder circular ao seu próprio ritmo, fazendo as paragens que desejar ao longo do caminho. Para chegar à costa alentejana, atravesse o rio Tejo e continue em direcção a sul, virando para Sines para apanhar o caminho costeiro que o levará de Porto Covo a Vila Nova de Milfontes, Almograve ou Aljezur.
▶ ONDE FICAR
A equipa da Índico ficou na Quinta do Chocalhinho, um alojamento rural situado na localidade de Bemposta, a escassos quilómetros de Odemira. O acolhimento é caloroso e a equipa de gestão garante todas as condições de higiene e segurança compatíveis com as exigências impostas pelo novo Coronavírus.
▶ ONDE COMER
Perto do Almograve, há uma pequena localidade chamada Longueira com pequenos restaurantes onde se come sumptuosamente, desde peixe fresco a salada de polvo, percebes ou amêijoas, camarão cozido, começando com pão saloio com manteiga, queijo e azeitonas, tudo regado com um bom vinho alentejano. Recomendamos uma passagem pelo “João da Longueira” ou “O Josué”.
▶ O QUE FAZER
Começando pela natureza e terminando na gastronomia, a costa alentejana é um destino de férias aliciante e relativamente pouco explorado. Ainda que o objectivo seja repousar, não deixe de percorrer um dos trilhos demarcados no âmbito da “Rota Vicentina”. No site www.rotavicentina. com, encontrará um amplo leque de sugestões para os mais ou menos aventureiros.
Texto: Cristiana Pereira, Em Portugal
Foto: Vasco Célio
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