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Mingas – A Voz Doce Com Coração De Ouro

Mingas – A Voz Doce Com Coração De Ouro

Mingas - A Voz Doce Com Coração De Ouro


Chama-se Elisa Domingas Salatiel Jamisse, mas todos a conhecem por Mingas. Dona de uma voz doce e profunda, há décadas que marca as vidas de milhões de moçambicanos, e não só, com a emoção e gingado das suas músicas, que falam de amor, desafios e conquistas. Mingas nasceu na década de 1960 e, durante o período de emergência, fez parte do grupo das escolhidas para frequentar o curso de professor. Porém, já naquela altura tinha a veia artística bem desenvolvida e optou por seguir a carreira musical. Tímida, conforme se descreve, é através da arte e das obras musicais que se abre ao mundo e comunica. “Gosto de conviver com a família e com os amigos, mas, ao mesmo tempo, adoro ter espaço para mim. Acho que é natural como compositora necessitar de momentos solitários para criar”. Quanto à iniciação musical, essa começou na Igreja Metodista, primeiro no grupo infantil Estrela e depois, na adolescência, no grupo da Patrulha. “Eu e dois jovens, Silva Zunguze e Safrão Navesse, criámos um trio, introduzindo a guitarra acústica na nossa apresentação na igreja”, recorda a cantora.

Questionada sobre se é uma mulher de fé e se continua a ir à igreja, Mingas não hesita: “Desde a minha juventude até ao presente tenho ido à igreja muito esporadicamen- te. Para mim, o mais importante não é frequentar a igreja todos os domingos, mas sim a conduta no dia-a-dia”.

Inspirada pela beleza da natureza, pelo quotidiano dos moçambica-nos(alegrias, frustrações,  desafios, conquistas, amor…) e pelo que acontece no mundo em geral, Min- gas confidencia-nos  que se  não fosse cantora talvez fosse médica cirurgiã, o que não nos surpreen- de, dada  a sua entrega a causas sociais.

Os seus fãs recordam-se da sua passagem pela Orquestra Marrabenta, e ela mais ainda, com uma certa nostalgia, destacando que o ponto alto dessa experiência foi interpretar, pela primeira vez, e gravar as músicas “A Va Sati Va Lomu” e “Elisa Gomara Saia”, e as digressões pela Europa e Zimbabwe. E, por falar em digressões, quisemos saber da artista como foi percorrer o país, entre 1982/83, em plena guerra. “Muito interessante, e importante, porque fiquei a conhecer um pouco sobre a natureza e as pessoas das capitais pro- vinciais do centro e norte do país, excepto Niassa. Por causa da guerra, as viagens foram de avião, tendo sido na maioria num avião militar Antonov. Teria sido ainda melhor conhecer o país viajando por terra, mas só nos foi possível fazê-lo até Inhambane”.

Movidos, ela e os companheiros, pela música, viam na- quelas viagens a chance de matar a sede de cantar para outro público. Segundo nos confidencia, Maputo tinha-se tornado pequeno para lhes garantir trabalho suficiente para a sua subsistência. E acrescenta: “Fo- ram várias as vezes que tocámos para no fim o paga- mento ser a capulana! Repare também que, na altura, éramos famosos, e os fãs de outros cantos do país pa- gavam para nos escutar e ver”.

Um dos marcos incontornáveis   da sua carreira foi a participação no Grupo RM, mas nem quando assu- miu a liderança do grupo, Mingas conseguia projectar o sucesso que se avizinhava.  “Não (previa o sucesso), pois o final dos anos 80 e princípio da década de 90 foi um período muito difícil. Não existiam espaços que acomodassem música ao vivo. Para espectáculos em grandes espaços só tínhamos um ou dois promotores, que apostavam mais em grupos de fora, em detrimento dos nacionais”. Porém, Mingas acreditava no seu sonho e tinha muita força de vontade em aprender mais com o grupo RM. A mesma energia e confiança ajudaram-na a procurar ou a inventar motivos para a produção de concertos onde ela e o grupo pudessem exibir o fruto de muitos meses de ensaio, actividade a que se dedica- vam a maior parte do tempo.

O salto para uma carreira a solo aconteceu após a experiência que ganhou no período em que integrou a banda de Miriam Makeba como corista.  “Os cinco anos a trabalhar com Mama Africa solidificaram a confiança em mim própria e deram-me mais garra para arriscar”.

Garra essa que se estende à paixão com que Mingas se dedica às diversas causas sociais que abraça. Neste momento, a cantora dedica-se à promoção de melhor qualidade de educação para todas as crianças, em particular das raparigas, à advocacia  dos direitos das crianças e dos direitos humanos e cívicos através da arte, em particular do diálogo musical.

Texto: Magda Arvelos

Foto: Jay Garrido

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